Sónia Santos Pereira, in Dinheiro Vivo
O estudo da OCDE evidencia as desigualdades laborais no interior dos países e alerta para o desafio da inclusão num mundo tecnológico
Entre 2011 e 2016, os anos agudos da crise económica e financeira, a região de Lisboa liderou a criação de emprego, com “mais de 60% da criação líquida de postos de trabalho em Portugal”, avança um relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE). Em oposição, a região norte foi a mais penalizada pela perda de emprego. Os dados constituem um alerta quanto às assimetrias no território nacional e os seus efeitos no mercado laboral, onde o progresso da digitalização e robotização é imparável. Num mundo globalizado, a viver um processo crescente de incorporação tecnológica e de automatização, e sob a sombra da introdução de 1,4 milhões de robots industriais já em 2019, as oportunidades serão muitas, mas levantam-se também inúmeras questões sobre o novo paradigma do trabalho.
O estudo da OCDE “Criação de emprego e desenvolvimento económico local 2018: preparar o futuro do trabalho”, hoje apresentado no Porto, vem apontar o dedo às enormes discrepâncias de desenvolvimento dentro dos países e aos novos modelos de trabalho. O documento sublinha que o perigo da automatização varia em mais de nove vezes entre as regiões em 21 dos 31 países da OCDE. Cerca de 14% dos empregos nos países da OCDE são altamente automatizáveis e 32% serão transformados neste processo. Há regiões, como a Eslováquia ocidental, onde a robotização poderá colocar em risco 40% dos atuais empregos e, pelo contrário, ter um impacto residual de 4% em cidades como Oslo (Noruega). O documento adianta que “as regiões com menor risco de automatização caracterizam-se por um maior número de trabalhadores com níveis elevados de escolaridade, um grande peso de empregos na área dos serviços e fortemente urbanizadas”. Ainda assim, a OCDE destaca que, desde 2011, 60% das regiões conseguiram criar empregos com menor risco de automatização do que os perdidos em setores onde as máquinas podem facilmente substituir o Homem. Para reduzir as diferenças no território, o organismo liderado por Mari Kiviniemi defende políticas nacionais alinhadas com as realidades locais para promover a produtividade, a automação e a digitalização, em paralelo com a inclusão.
Aumento da precariedade A economia digital tem potenciado a criação de trabalhadores por conta própria e de part-times, um fenómeno que tem contribuído para formas precárias de trabalho, com pouca ou nenhuma proteção. Durante a última década, registou-se o aumento do trabalho temporário, muito centrado em mulheres, jovens ou pessoas com baixas qualificações. Mais, uma vez, diz a OCDE, são os habitantes de zonas rurais os mais afetados pela precariedade laboral. O organismo defende a formação e requalificação dos trabalhadores, incentivos à criação de novas atividades económicas com maior valor acrescentado e um apoio à economia social como ferramentas de inclusão. A OCDE promove, até amanhã, no Porto, Braga e Viana do Castelo, a 14ª edição do Local Economic and Employment Development Forum, um evento que reúne decisores políticos, autoridades locais, empresários, e outras entidades para debater o emprego e os caminhos para o futuro.