17.12.20

Trabalho: OCDE alerta para a falta de diversidade geracional nas empresas

Cátia Mateus, in Expresso

Em 30 anos, só quatro em cada dez trabalhadores terão mais de 50 anos. OCDE lança o alerta: falta de diversidade geracional nas empresas tem custos elevados para a economia

Em 2050, quatro em cada dez trabalhadores nas economias mais avançadas do mundo terão mais de 50 anos. Nos países da Organização para a Coorperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) por cada dois trabalhadores entre os 20 e os 64 anos, haverá um com mais de 65 anos de idade. O desequilíbrio evidente leva a organização a defender a urgência dos vários países promoverem políticas de diversidade e inclusão geracional no mercado de trabalho.

"Promover uma maior diversidade de experiências, gerações e talentos nas empresas traz enormes benefícios para trabalhadores, empresas e para a sociedade como um todo", defende o secretário-geral da OCDE, Angel Gurría. Num relatório agora divulgado sobre a inclusão geracional no mercado de trabalho, Gurría argumenta que "os empregadores precisam de desenvolver programas e iniciativas que garantam a diversidade geracional no mercado de trabalho e nas empresas, garantam políticas de apoio a esta diversidade e diálogo social".

DIVERSIDADE ALAVANCA A ECONOMIA

No relatório, a OCDE avança que os padrões de vida nos vários países que integram a organização melhorariam significativamente com um aumento da participação de trabalhadores mais velhos no mercado de trabalho. "Prolongar a vida ativa dos profissionais poderia aumentar, em média, em cerca de 19% o PIB per capita nos países da OCDE até 2050, se as taxas de empregabilidade dos trabalhadores mais velhos nos vários países acompanhassem as dos países com melhor desempenho nesta matéria, Islândia e Nova Zelândia", sinaliza a organização.

Contudo, a discriminação em função da idade "continua a ser um problema comum em todo o mundo, restringindo as opções de emprego para os mais velhos e, por vezes, também para os mais jovens", reforça a OCDE no relatório onde também salienta o "custo considerável" que a ausência de diversidade geracional comporta para as empresas.

Os custos são reconhecidos. Mas ainda assim, "as atuais políticas públicas de emprego e reforma, bem como as práticas de gestão empresarial, continuam frequentemente vinculadas à idade dos trabalhadores e não à sua capacidade de trabalho real ou às suas necessidades individuais", esclarece o relatório. Os especialistas da OCDE reforçam que "apesar dos profissionais seniores serem hoje mais saudáveis e qualificados do que nunca, o seu talento permanece muitas vezes subutilizado pelas empresas e pouco valorizado".

ELIMINAR RECRUTAMENTOS TENDENCIOSOS

No relatório, a organização lança vários alertas. "Em vez de se focarem na idade, as políticas laborais devem ser adaptadas às diferentes circunstâncias e contextos individuais", esclarece a OCDE reforçando que isso implica "a eliminação de práticas de recrutamento tendenciosas, orientadas pelo critério da idade, e o incentivo a culturas organizacionais diversas e inclusivas onde todos os trabalhadores se sintam valorizados, independentemente da sua idade".

Num mercado de trabalho global onde o talento é escasso, reter profissionais é a palavra de ordem. A organização sugere que a aposta em regimes de trabalho mais flexíveis e conciliadores com a vida pessoal, a definição de planos estruturados de carreira e progressão e a formação ao longo da vida serão ferramentas fundamentais para reter talento no futuro, independentemente da sua idade, podendo ajudar a esbater as barreiras geracionais que continuam a dividir o mercado de trabalho.

Segundo o relatório, em toda a OCDE só 41% dos trabalhadores participam em formação regular em contexto de trabalho para desenvolvimento de competências. É nos mais jovens que a incidência de formação é maior. "Incentivar as pessoas a manter e desenvolver as suas competências ao longo da vida geraria ganhos de produtividade significativos e ajudaria os profissionais mais seniores a prolongar a sua vida ativa", argumenta a OCDE que sugere que governos e empresas revisitem as suas políticas de formação e qualificação em contexto laboral.