14.11.22

Lisboa capta 403 milhões de 60 nacionalidades

Sónia Santos Pereira, in Dinheiro Vivo

Entre os compradores internacionais, foram os franceses que mais investiram na compra de habitação no semestre.

Nos primeiros seis meses deste ano, o mercado internacional investiu 403 milhões de euros na aquisição de casas em Lisboa. O número só não é um recorde porque se registou uma corrida à compra de habitação na segunda metade de 2021, período em que o investimento estrangeiro atingiu os 592,5 milhões, devido às alterações ao regime dos vistos gold que entraram em vigor a 1 de janeiro. Ainda assim, o volume aplicado permite concluir que a exclusão de compra de imóveis em Lisboa dos critérios para atribuição de autorização de residência por investimento teve pouco impacto na atratividade da cidade para os compradores externos. Entre janeiro e junho, 60 nacionalidades compraram 792 residências na capital.

Com estes números, "não é visível que tenha havido impacto do fim dos vistos gold em Lisboa. A cidade consolidou-se como um mercado de destino internacional", sublinha Ricardo Guimarães, diretor da Confidencial Imobiliário (CI). É certo que o investimento caiu 32% face ao segundo semestre de 2021 e a diversidade de nacionalidades desceu do recorde de 76 registado nessa metade do ano passado, evidenciando que, de facto, houve uma corrida aos vistos dourados. Mas, ainda assim, o volume aplicado por não residentes nestes primeiros seis meses do ano superou os níveis médios semestrais dos últimos três exercícios, que se situam entre os 360 e os 390 milhões, aponta Ricardo Guimarães. A temida travagem da procura internacional em Lisboa não se verificou com as alterações aos vistos gold.

Os franceses lideram o top 5 dos investidores estrangeiros neste primeiro semestre, tendo aplicado 71,5 milhões de euros na compra de 130 habitações na ARU de Lisboa (exclui as freguesias do Parque das Nações, Lumiar e Santa Clara) no primeiro semestre deste ano, 18% do total investido pelo mercado internacional, revelam os dados disponibilizados pela CI. Os norte-americanos são a segunda nacionalidade mais ativa (48,3 milhões, 90 casas), seguindo-se a chinesa (38,7 milhões, 85 imóveis), a britânica (33,1 milhões, 65 unidades) e, a fechar a lista, a brasileira (32,8 milhões, 45 ativos).

Como comprovam os montantes investidos, os brasileiros são os que mais abrem o cordão à bolsa. Estes investidores respondem por um ticket médio por transação de 763,3 mil euros, bem acima do valor mínimo de 500 mil euros exigido anteriormente para a aquisição de imóveis no âmbito dos vistos gold. Segundo mostram os dados da CI, gastam em média mais 40% por operação do que os franceses, norte-americanos e britânicos, cujos valores se situam entre os 525 mil e os 566 mil euros. Do top 5, os chineses são os mais contidos, despendendo uma média de 464,2 mil euros. No geral, os estrangeiros gastaram em média 509 mil euros por compra neste semestre.

As preferências destes investidores estão centradas nas freguesias de Santo António, Avenidas Novas, Estrela, Arroios, Misericórdia e Santa Maria Maior, evidenciando agora uma maior dispersão no território do que era habitual. Na Misericórdia e em Santa Maria Maior, os estrangeiros continuam a dominar as transações, respondendo por 71% e 83%, respetivamente, do montante aplicado. Nas Avenidas Novas e Arroios, estes investidores estão a ganhar relevo, pesando já cerca de 40% nas vendas. Nas restantes freguesias, o mercado internacional não vai além dos 25% das transações.

Os estrangeiros foram assim responsáveis por 33% dos 1225 milhões de investimento realizado em habitação na ARU de Lisboa no primeiro semestre deste ano e por 26% das 3100 operações. Já os portugueses compraram 2275 casas, no valor global de 822,3 milhões. O ticket médio foi de 361,5 mil euros, bastante abaixo do aplicado pelos não residentes.

Para este segundo semestre, marcado pela subida das taxas de juro e por uma inflação galopante, é de admitir uma redução no número de transações, diz Ricardo Guimarães. "A retração da procura por efeito dos constrangimentos da concessão de crédito, a menor disponibilidade de casas novas no mercado - a dinâmica da promoção imobiliária também caiu devido ao aumento dos custos de construção -, a quebra na oferta de habitações usadas, que deverão entrar no mercado de arrendamento, devem conduzir a uma descida nas vendas", aponta. Como lembra, "em contexto de inflação, o mercado de arrendamento é um refúgio, pois os imóveis acabam por não se desvalorizar".