12.6.15

"Infância em Portugal não é período de vida feliz para muitas crianças"

in TVI24

Da pobreza ao bullying, as histórias de vida das crianças nem sempre são um conto de fadas

Várias instituições pediram esta segunda-feira, Dia Mundial da Criança, a criação de uma estratégia contra a pobreza infantil, que afeta um quarto das crianças e jovens em Portugal que têm desta forma o “futuro ameaçado”.

“São números muito pesados e, por isso, estamos conscientes de que a infância em Portugal não é um período de vida feliz para muitas crianças, porque vivendo em situação de pobreza e exclusão social encontram-se privadas de várias dimensões de bem-estar”, diz o presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza (EAPN Portugal), padre Jardim Moreira.

A Cáritas Portuguesa defende, por sua vez, a importância de se encarar o combate à pobreza infantil como uma prioridade para os decisores políticos e para a sociedade civil.

"Os custos humanos deixaram marcas não apenas na geração futura, mas no tecido humano e social do país. Um país que não dá às crianças as oportunidades necessárias para um crescimento equilibrado e de esperança nunca poderá ser considerado um país desenvolvido", afirma o presidente da Cáritas, Eugénio Fonseca, num comunicado conjunto.

A Cáritas, em conjunto com a EAPN, que coordena um grupo de trabalho de reflexão sobre este tema, defendem “a criação urgente de um programa de ação, assumido como instrumento de política pública para a prevenção e combate eficazes da pobreza infantil e exclusão social em Portugal”.

Já Dulce Rocha, vice-presidente do Instituto de Apoio à Criança, que também integra o grupo de trabalho, destacou “as múltiplas violações de que ainda são vítimas as crianças”.

“Em nome da defesa dos direitos humanos, não podemos silenciar o aumento da pobreza infantil, a violência, a exploração sexual e o fenómeno associado do tráfico de crianças que continuam a ensombrar um futuro que queremos de respeito e dignidade”, sublinhou Dulce Rocha.

Para Amélia Bastos, professora do Instituto Superior de Economia e Gestão, também membro do grupo de trabalho, “as crianças têm sido o grupo etário mais penalizado pela deterioração das condições de vida” em Portugal.

“Esta constatação deverá levar-nos a refletir sobre as consequências da pobreza infantil para as crianças que, desta forma, têm o futuro ameaçado. Trata-se de um problema societal” que a todos diz respeit”, sustenta Amélia Bastos.

As instituições defendem no comunicado, publicado no site da Cáritas, que “construir memórias positivas é crucial para o desenvolvimento harmonioso de uma criança”, sendo que essa construção não depende apenas dos pais, mas também dos seus educadores, dos seus pares e de todos os adultos que os rodeiam.

“Situações de abusos, violência, bullying, são passíveis de criar memórias negativas numa criança e afetar o seu equilíbrio físico e emocional”, advertem.

Fernando Diogo, da Universidade dos Açores e membro do grupo de trabalho, salienta que “no contexto de grande crise que o país atravessa, os esforços parentais para proteger as crianças dos efeitos da pobreza têm limites”.

“Esses limites consubstanciam-se na escassez de todo o tipo de recursos, fazendo com que a possibilidade de efeitos duradouros da pobreza infantil na vida dos indivíduos seja muito grande”, sublinha.

Fernando Diogo adverte que “problemas de desenvolvimento mal resolvidos, traumas psicológicos e uma escolaridade medíocre traçam um destino provável de inferioridade social construído na infância e vigente ao longo de toda a vida, mau grado a precocidade e a ousadia da previsão”, como reporta a Lusa.