in Diário de Notícias
Várias mulheres em situação de pobreza extrema ou dependentes de drogas vendem os filhos no Irão
Em Teerão, capital do Irão, o preço de um bebé varia entre mil e 1500 euros. O procedimento normal é negociar com uma mulher grávida que esteja na miséria, encontrada na parte pobre da cidade, acompanhá-la ao hospital no dia do parto e ficar com a criança mal ela nasça.
"O pessoal do hospital sabe, mas prefere que o bebé vá para casa com a família [que o comprou] do que com uma mãe que não poderá cuidar dele em nenhum caso", explica Leyla ao jornal espanhol El Mundo.
Leyla é voluntária de uma organização não-governamental que apoia crianças e mulheres no Irão e convive diariamente com o lado mais feio da cidade, onde reinam as drogas e a miséria.
"As mulheres estão desesperadas", afirma ao El Mundo. "Não conseguem sequer alimentar-se a si próprias e quando engravidam sabem que não podem cuidar dos bebés, por isso aceitam vendê-los".
Foi o caso de Zahra, de 25 anos. A jovem é filha de pais toxicodependentes e cresceu no meio das drogas. Começou a consumir ópio e ecstasy cedo e perdeu o controlo, ficando várias vezes à beira da morte.
Uma manhã, Zahra vendeu o seu bebé no mesmo parque onde tinha passado a noite, ao relento.
No Irão, esta situação é mais comum do que parece. O governo tem feito um grande esforço para esconder esta realidade, segundo o El Mundo, mas assumiu recentemente o problema e prometeu ajudar a combatê-lo.
Tanto a vice-ministra do governo, Shahindokht Molaverdi, como a responsável pelos assuntos sociais de Teerão se comprometeram publicamente a ajudar estas mulheres e a combater a prática.
A vice-ministra defendeu, há algumas semanas, que o agravamento da "pobreza económica e cultural, as drogas, a falta de habitação e os casamentos precoces são algumas das razões que explicam porque algumas mulheres se vêm forçadas a vender os filhos ainda antes de eles nascerem".
A vice-ministra afirmou ainda que há muitos casos, apesar de não existirem dados oficiais.
Os compradores muitas vezes são famílias que não conseguem ter filhos e que vão para as zonas pobres da cidade, como Shoosh ou Khate-Sefid, à procura de crianças ou mulheres grávidas desesperadas. Estes são os que pagam mais.
Os traficantes também compram crianças, para as obrigarem a trabalhar como vendedoras de rua desde os três anos e pagam menos. O filho de Zahra custou 50 euros, o que provavelmente quer dizer que foi comprado por um destes homens, segundo Leyla.
Leyla não critica completamente a venda de bebés a famílias com melhores condições porque, para si, o destino do filho de um toxicodependente é demasiado triste. "Os meninos passam mais de 12 horas a trabalhar nas ruas, a vender panos e postais para as mães comprarem droga", explica. Muitos deles acabam por se tornarem também viciados em drogas.
Esse foi o destino de Sepideh. Filha de pai toxicodependente, a mulher de 30 anos começou a consumir aos 12 anos e ficou viciada, tal como a irmã.
Um dia, à porta de uma mesquita, uma senhora ofereceu-se para comprar o filho de Sepideh e a irmã vendeu-o por 500 euros. "A minha irmã estava ali com o meu filho nos braços", diz Sepideh a chorar, enquanto conta que até hoje não voltou a encontrar o filho.
A organização onde Leyla trabalha tenta mudar a vida destas crianças, colocando-as na escola, enquanto ajuda as mães.
O Irão está na linha do tráfico de drogas, entre o Afeganistão, o maior produtor mundial de ópio, o Paquistão e a Europa, por isso o número de narcóticos que entram e circulam no país e o número de toxicodependentes é bastante elevado, segundo a agência contra drogas e crimes das Nações Unidas.