Andrea Cunha Freitas, in Público on-line
Investigadores portugueses participam num estudo que envolve 31 organizações de 16 países europeus e que conta com um financiamento de dez milhões de euros. O objectivo é identificar as melhores estratégias de ataque à obesidade.
Desde o rótulo de um produto e do lugar que ocupa na prateleira do supermercado, ao ambiente em que vivemos, passado pela predisposição genética e por factores biológicos, tudo conta quando se avalia o actual fardo da obesidade na sociedade. Para estudar e atacar o problema de saúde pública, o projecto STOP (Science and Technology in childhood Obesisity Policy) vai apoiar-se nos dados recolhidos por diferentes projectos em vários países sobre as crianças e adolescentes europeus e, com a análise e consolidação desta informação, definir “políticas efectivas e sustentáveis para prevenir e gerir a obesidade infantil”. O Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) é um dos parceiros nesta missão que mereceu um financiamento de dez milhões de euros da União Europeia, através do programa Horizonte 2020.
O foco principal do STOP está nos “impactos cumulativos de exposições múltiplas em crianças vulneráveis e socialmente desfavorecidas e nas suas famílias, que devem ser um alvo prioritário para a luta contra a obesidade infantil na Europa para alcançar um ponto crítico e ter sucesso”, define o programa da acção europeia. E adianta: “O STOP identificará estágios críticos na infância (a partir de exposições pré-natais) nas quais as intervenções podem ser mais eficazes e eficientes”. Em declarações ao PÚBLICO, Henrique Barros, epidemiologista que coordena a equipa do ISPUP envolvida no projecto, explica que o complexo e completo diagnóstico deverá incluir factores genéticos, biológicos, comportamentais, influências sociais, culturais e até comerciais que contribuem para a epidemia da obesidade.
“Há três frentes principais de ataque”, esclarece o investigador. Os investigadores vão, por um lado, dedicar-se à “compreensão de aspectos de natureza biológica” onde será explorado o impacto da genética e da epigenética na predisposição para a obesidade e os efeitos da pressão do ambiente no nosso organismo. “Se o problema da obesidade fosse um problema genético, não subia em 20 anos, porque em 20 anos não muda a genética de ninguém”, argumenta Henrique Barros, acrescentando que o que se deve investigar é a exposição a substâncias conhecidas como disruptores endócrinos que podem “ligar ou desligar” a disponibilidade genética para engordar.
“O ginásio não serve para nada”
Por outro lado, uma outra frente de ataque dos investigadores encontra-se nos factores de natureza socioeconómica que podem ou não favorecer a prevalência de obesidade. Um dos pontos de partida, lembra Henrique Barros, será tentar perceber todas as razões que levam a que “nos países pobres, os ricos são gordos e os pobres são magros, e nos países ricos, os ricos são magros e os pobres são gordos”. Aqui, diz o epidemiologista, será interessante investigar “qual é a relação entre as condições de vida dos indivíduos e os ambientes potencialmente obesigénicos, ou seja, as circunstâncias que limitam ou condicionam a nossa actividade”. Importa o sítio onde vivemos, se é seguro ou não, importa estimular as pessoas a andar menos de carro e mais a pé, importa que mudem os hábitos do dia-a-dia optando, por exemplo, por subir as escadas em vez do elevador.