19.6.18

Gravação expõe o sofrimento das crianças separadas dos pais na fronteira dos EUA

in RTP

Uma gravação áudio obtida pela ProPublica mostra o sofrimento das crianças imigrantes em centros de detenção temporários na fronteira dos Estados Unidos. Desde abril, mais de 2.300 crianças foram separadas das famílias, como consequência da política de imigração “tolerância zero”.

O áudio foi gravado na semana passada dentro de uma instalação do Serviço de Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA. A pessoa que fez a gravação pediu para não ser identificada por medo de retaliação, de acordo com a organização não lucrativa ProPublica, dedicada ao jornalismo de investigação sobre temas de interesse público. Posteriormente, o ficheiro foi enviado para Jennifer Harbury, uma advogada de direitos humanos.

O denunciante que fez a gravação estima que as crianças tenham entre 4 e 10 anos de idade. "Parece que as crianças estiveram no centro de detenção por menos de 24 horas, por isso a angústia por terem sido separados dos pais ainda era crua", disse o relatório da ProPublica. "Os funcionários do consulado tentaram consolá-los com comida e brinquedos. Mas as crianças estavam inconsoláveis".

Na gravação de áudio é possível ouvir cerca de dez crianças gritarem “Pai” e “Mãe”, repetidamente, como se fossem as únicas palavras que conhecessem. A voz de um agente da Patrulha da Fronteira sobrepõe-se ao som do choro e angústia das crianças. "Bem, nós temos uma orquestra aqui", diz o homem em espanhol.

Uma criança de seis anos implora para alguém chamar a tia. A criança diz ter memorizado o número de telefone. "A minha mãe diz que vou com minha tia e que ela me vem buscar o mais rápido possível", diz enquanto chora. No final do áudio, uma funcionária oferece-se para fazer a chamada.

A ProPublica disse que foi capaz de entrar em contato com a tia da menina. Segundo a agência, a tia disse que não poderia ajudar sobrinha porque ela e a sua própria filha de nove anos também estão à procura de abrigo.

"Foi o momento mais difícil da minha vida", disse a mulher, segundo a ProPublica. "Ela chorava e implorava-me para ir buscá-la. Dizia 'Eu prometo que me vou portar bem, mas, por favor, tira-me daqui. Estou sozinha."

Durante uma conferência de imprensa, a secretária de Segurança Interna, Kirstjen Nielsen, defendeu a política do governo e afirmou não ter ouvido a gravação. "Não nos vamos desculpar pelo trabalho que fazemos, pelo trabalho da cooperação policial e por fazer o trabalho que o povo americano espera de nós".

A política de “tolerância zero”, imposta pelo governo de Donald Trump, exige o julgamento de todas as pessoas que tentem entrar ilegalmente nos Estados Unidos e retira as crianças que trouxerem consigo.