13.11.20

Hotéis antecipam 100 mil desempregados em janeiro se não tiverem apoios para pagar salários

Conceição Antunes, in Expresso

Recolher obrigatório aos fins de semana fez cancelar 90% das "poucas reservas que havia". Em Lisboa, mais de 70% dos hotéis vão ficar fechados no final do mês

A situação dos hotéis está a agravar-se, à medida que se entra na época baixa, aumentam os casos de covid-19 em Portugal e se apertam as medidas de confinamento. Segundo Raul Martins, presidente da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP), o sector está a chegar ao limite da tesouraria, e sem mais capacidade para pagar salários e outros encargos fixos, mesmo tendo os hotéis fechados.

"Prevemos ter 100 mil desempregados na hotelaria a partir de janeiro, é o que vai acontecer se não houver apoios à tesouraria. Vamos ter hotéis a começar a incumprir com impostos, salários e outros pagamentos, a fazer despedimentos, e depois vão à falência, é a ordem natural", alerta o presidente da AHP.

O Governo anunciou na semana passada um pacote de ajudas financeiras aos sectores mais atingidos pela crise da covid, incluindo o turismo, mas segundo o presidente da AHP "estamos fora desses apoios, que se dirigem a empresas muito micro, que têm até cinco trabalhadores". É o caso de muitas empresas hoteleiras, mas os apoios não se aplicam "aos hotéis com maior dimensão, que são os que empregam mais pessoas, e aí sim, pode haver lugar a despedimentos", frisa.

O decretar de medidas de recolher obrigatório nos próximos dois fins de semana foi mais uma machadada na situação crítica em que se encontram os hotéis, e segundo Raul Martins levou a "cancelamentos de 90% das poucas reservas que havia".

Os hotéis reclamam apoios idênticos aos que estão previstos para os restaurantes com a situação de recolher obrigatório, uma vez que a sua utilização também tem estado muito circunscrita aos fins de semana nesta altura, em que as ocupações médias são de 15%, níveis insuficientes para assegurar rentabilidade.

"Percebemos a intenção dessa medida, mas a deslocação para os hotéis devia ser considerada entre as exceções, uma vez que é equivalente a deslocações a casa, tendo em conta que os hotéis são uma morada temporária", destaca o presidente da associação hoteleira - que já pediu esclarecimentos ao gabinete do primeiro-ministro, que até ao momento ainda não foram atendidos. "A hotelaria foi posta de parte pelo Governo", conclui Raul Martins.
HOTÉIS COM SALÁRIOS EM ATRASO

A associação hoteleira reclama do Governo apoios "urgentes" à tesouraria das empresas, e adiamento de pagamentos à Segurança Social, para os hotéis poderem continuar a pagar salários, e outros custos fixos que têm de suportar, mesmo estando de portas fechadas.

"Já há hotéis a entrar em incumprimento, com salários em atraso, e não sei quem é que na hotelaria vai conseguir pagar o 13.º mês", faz notar Raul Martins. "Tivemos oito meses maus, e temos pela frente mais oito meses péssimos. Mesmo chegando uma vacina, o que se fala é que só estará disponível à população em meados do ano que vem. Até lá, a falência das empresas é inevitável."

Hotéis de portas fechadas é um cenário que tende a agravar-se, prevendo mutos não vir a abrir até à primavera de 2021. "Até ao final de novembro, vão estar fechados mais de 70% dos hotéis em Lisboa, agora no Porto fecharam de repente 20 hotéis", faz notar Raul Martins, lembrando que são os hotéis grandes, com quatro e cinco estrelas, "os primeiros a fechar".

As rendas a que os hotéis estão sujeitos, e os apoios aos senhorios quando o seu pagamento não consegue ser cumprido, são outra preocupação da AHP - e segundo o presidente da associação, se os hotéis estão fechados, a perspetiva de começar a pagar esta fatura em janeiro de 2021 não é solução, uma vez que nesta altura "a hotelaria não está em situação de pagar nada". De acordo com um recente inquérito aos associados, mais de metade dos hotéis esperam ter 0% de ocupação em dezembro e janeiro.

Nesta fase crítica, os hotéis reclamam ainda a isenção do pagamento de IMI referente a 2020, decisão que cabe às câmaras. "Sabemos que há várias autarquias a considerar o não pagamento do IMI relativo a 2020, mas ficámos muito perplexos por a Câmara de Lisboa não ter nada a dizer sobre isto", adianta Raul Martins.

"Para nós, só há retoma quando houver em Portugal 50% dos turistas que havia em 2019, só aí conseguimos ter uma exploração equilibrada", sublinha o responsável da associação hoteleira. Mesmo com previsões do turismo português recuperar logo que a pandemia acalmar, "podemos chegar a uma altura em que há turistas no país e não temos hotéis para os receber, se não tivermos apoios o que vai acontecer é hotéis a falir", avisa o presidente da AHP.