Abel Coentrão, in Público on-line
Projecto que pretendia reabilitar imóveis degradados sem custos para os proprietários não conseguiu obter o apoio de parte dos parceiros que o haviam prometido.
Prédio cedido para o projecto vai ser devolvido à Câmara do Porto
O site da iniciativa Faz – ideias de origem portuguesa, liderada pela Fundação Calouste Gulbenkian, mostra-o como um caso de estudo. Mas o desinteresse de alguns parceiros levou à interrupção do Arrebita! Porto, iniciativa com a qual José Paixão, e um conjunto de arquitectos de vários países, pretendia provar ser possível reabilitar casas a custo zero.
José Paixão não usa a palavra cancelamento. Prefere, nesta fase, assumir apenas a “interrupção” de um projecto iniciado em 2013, um ano e meio depois do protocolo assinado em 2012 entre a equipa do projecto, a Gulbenkian e a Câmara do Porto, que lhes cedeu uma casa nos números 42-46 da Rua da Reboleira, devoluta há uns vinte anos. A casa teve obras ao nível da cobertura, fachada e caleiras, mas, por dentro, muito ficou por fazer. A prometida colaboração de várias instituições deixou de acontecer.
Os trabalhos deveriam envolver alunos de Erasmus das áreas da arquitectura e engenharia, as respectivas universidades e empresas do sector da construção civil, que se associariam com a cedência de materiais. Mas esta rede com mais de 50 parceiros acabou por falhar e, desde o Verão, deixou de haver gente a trabalhar na casa, que vai ser devolvida à Câmara do Porto. O vereador do Urbanismo, Correia Fernandes, desconhecia esta sexta-feira a situação do projecto, noticiada pelo Jornal de Notícias.
Neste momento, o mentor do Arrebita! Porto não se quer alongar em comentários ou explicar quem deixou de colaborar, e os motivos para tal decisão. Mais do que culpar alguém, José Paixão prefere esperar por uma avaliação do Instituto de Empreendedorismo Social que, espera, será publicamente divulgada e debatida, porque, notou, “não é só dos casos de sucesso que se podem retirar lições”.
“A necessidade de encontrar formas económicas de reabilitar o edificado continua premente. O modelo é que pode não ser aquele que propusemos”, admitiu o jovem arquitecto que regressou a Portugal, depois de 12 anos no estrangeiro, quando o seu projecto “ganhou”, com outros, o Faz – Ideias de Origem portuguesa. “Este caso de estudo pode ser muito importante para vermos formas de actuação no futuro”, garante o mentor do Arrebita!, não mostrando qualquer arrependimento por se ter envolvido, a tempo inteiro, num projecto que não conseguiu terminar.
O projecto Arrebita!Porto foi o vencedor da primeira edição do Faz – Ideias de Origem portuguesa. Tem como missão “combater o abandono do centro da cidade do Porto, um problema crónico que não dá sinais de resolução”. Depois da fase piloto, a ideia consistia em criar uma organização sem fins lucrativos que oferecesse a possibilidade a senhorios de prédios degradados de "reabilitarem o seu imobiliário a custo zero”. Para tal, os proprietários ofereceriam alojamento e alimentação a estudantes estrangeiros de arquitectura e engenharia que se ofereceriam para conceber e concretizar a requalificação.
O PÚLBLICO tentou, sem sucesso, obter uma reacção da Fundação Calouste Gulbenkian ao desfecho do Arrebita! Porto, projecto muito acarinhado pelas instituições que promovem o Faz – Ideias de Origem Portuguesa, concurso dirigido aos cinco milhões de portugueses residentes no estrangeiro, e que aparece como caso de estudo na homepage da iniciativa. Segundo a Gulbenkian, “na primeira edição, a diáspora respondeu a este desafio com a submissão de 203 ideias (nas áreas do Ambiente e Sustentabilidade, do Diálogo Intercultural, do Envelhecimento e da Inclusão Social), provenientes de 28 países dos cinco continentes”. Na segunda edição, em 2013, o concurso recebeu 75 ideias, passou a premiar as três melhores mas garantiu o acompanhamento dos dez finalistas.
Iniciativa tem sido um apelo às ideias da diáspora
O Arrebita!Porto foi o primeiro vencedor do Faz – Ideias de Origem Portuguesa. Ao longo de três edições este concurso que envolve a Gulbenkian, o Instituto de Empreendedorismo Social e a Cotec já premiou sete iniciativas em diferentes áreas, com destaque para as duas primeiros da segunda edição, a Orquestra XXI, formada por jovens músicos portugueses a viver fora do país, e a Fruta Feia, que valoriza, com grande adesão de produtores, um recurso desperdiçado por exigências de “estética” da indústria alimentar e do comércio. Segundo a Gulbenkian, “desde que iniciou actividade o projecto já evitou o desperdício de 4,2 toneladas de alimentos”. Nessa segunda edição foi também premiado o projecto Rés-do Chão, que procurava uma solução para o número crescente de lojas devolutas em Lisboa. Os últimos vencedores foram as ideias Sumos Portugal (comércio com apoio a pessoas com deficiência), Salva a Lã Portuguesa e Plantei.eu, uma plataforma de partilha de conhecimento sobre agricultura biológica.