por Olímpia Mairos, RR
Centro em Peso da Régua cruza estratégias no combate ao insucesso e abandono escolar. A equipa multidisciplinar é constituída por voluntários.
Três vezes por semana, sempre ao final da tarde, o edifício ABA no Bairro das Alagoas, Peso da Régua, abre as suas portas para acolher crianças carenciadas que frequentam o 1º e o 2º ciclos do ensino básico.
Aqui que funciona o Centro de Recursos, uma iniciativa do programa Contratos Locais de Desenvolvimento Social Mais (CLDS+) Peso da Régua em colaboração com a autarquia, que visa combater o insucesso e o abandono escolar.
Direccionado para famílias carenciadas, sem possibilidade financeira de garantir o apoio escolar que as suas crianças precisam, o centro funciona com uma equipa multidisciplinar, em regime de voluntariado, que orienta o estudo e a realização dos trabalhos de casa dos mais novos, procurando, desta forma, “garantir a igualdade de oportunidades e a inclusão”.
Ana Mendes, coordenadora do Centro de Recursos, explica à Renascença que uma das preocupações é a “reaproximação de laços das crianças com a instituição escolar”.
Dificuldades a matemática e português
Filipa Pereira é uma das professoras envolvidas no projecto e refere que as principais dificuldades dos alunos são matemática e o português. “Ou fazem os trabalhos connosco ou então não os fazem”, lamenta.
Além da ajuda na realização das tarefas da escola, “para que no dia seguinte as crianças possam, por parte da escola, sentir o reforço positivo de terem feito e cumprido com a tarefa que lhes foi dada pelo professor”, os técnicos procuram investir e trabalhar nas atitudes e comportamentos.
“Estamos aqui para ensinar a respeitar, a não levantar a voz, a não dar respostas de forma negativa”, acrescenta Filipa Pereira, sublinhando que “tão importante como ajudar nas tarefas escolares é incutir regras”.
TPC’s, amigos e guloseimas
São cerca de 20 crianças, entre os seis e os 15 anos, que frequentam o Centro de Recursos.
Chegam contentes, entusiasmadas, e mal entram na sala cumprimentam com um beijo as técnicas. Só depois se abeiram das mesas de trabalho e começam a tirar os livros das mochilas.
À medida que se vão dispondo para trabalhar, Carina, 10 anos, começa a distribuir chupa-chupas pelos colegas. É uma tarefa que leva a peito e com uma responsabilidade sorridente e discreta. É a avó que “abastece”, ora com chupas ora com rebuçados, o saco plástico que Carina guarda na mochila, depois da missão cumprida.
Nuno tem nove anos e já anda no 4º ano. No dia em que a Renascença visitou o Centro de Recursos trazia várias contas para fazer. “Já as fiz, com a ajuda da Joana”, diz, à medida que coloca os livros e os cadernos dentro da mochila. Quando não tem trabalhos para fazer “brinca” e até faz “aviões de papel”.
Muito concentrada está a Ana Rita de 12 anos. Frequenta o 6º ano e, apesar de não querer ser jornalista, está a escrever uma notícia que “a professora de português mandou fazer”. A notícia é sobre uma festa que realizaram no centro e contém “o título, o lead e o corpo da notícia”. Diz ainda que gosta muito de frequentar o centro porque “é uma ajuda para fazer os trabalhos de casa” e uma oportunidade para “estar e brincar com os amigos”.
Jair tem nove anos e anda no 2º ano “Já devia andar no 4º, só que chumbei”, conta. Vem ao centro para “fazer os tpc’s”. Tem dificuldades a português e diz que “o que custa mais é escrever”.
Já Isac, 10 anos, frequenta o 4º ano e só tem problemas com a “tabuada do nove”. Um obstáculo que espera ultrapassar “com a ajuda das professoras”.
Pais notam a diferença
Os pais são os primeiros a reconhecer a evolução das crianças, quer em termos de aproveitamento escolar quer em termos de comportamento.
“Já se nota bastante a diferença. Alguns miúdos não sabiam dizer muitas palavras e agora já lêem”, diz António Pinto, pai de quatro crianças e um dos impulsionadores do projecto.
O Centro de Recursos é “uma óptima ajuda para as famílias que não possuem condições para pagar explicações aos meninos”. António Pinto considera que “as pessoas deviam aproveitar mais” porque “isto raramente se vê. Aqui não se cobra dinheiro”, conclui.
Também Paula Soares Diogo sublinha que “a iniciativa é muito boa”, na medida em que permite “a convivência entre crianças e evita que andem na rua”. Em termos escolares realça que a sua filha está “mais empenhada” e a “ultrapassar as dificuldades” que sentia na matemática e na leitura.