23.3.16

Crise dos refugiados e economia social em destaque nas jornadas da Misericórdia

Fátima Ferreira, in "Gazela das Causas"

O papel das organizações na crise dos refugiados e a economia social foram temas debatidos nas Jornadas Técnicas da Santa Casa da Misericórdia das Caldas da Rainha, que se realizaram entre os dias 2 e 4 de Março no Inatel da Foz do Arelho.

Com uma participação de 214 pessoas, esta sexta edição deu também destaque às questões da infância e juventude e envelhecimento, com as quais a instituição trabalha directamente.

As instituições portuguesas estão prontas para os acolher, mas os refugiados tardam em chegar. Mónica Frechaut, do Conselho Português para os Refugiados, reconhece que o processo de recolocação demorou muito tempo, mas considera que este está a “ficar mais oleado” e que no futuro será mais rápido e que as organizações sociais vão ser chamadas a trabalhar com mais frequência.
Já na passada segunda-feira chegaram a Lisboa mais 64 refugiados, maioritariamente oriundos da Síria e do Iraque. Mónica Frechaut acredita que a população irá voltar a mobilizar-se para dar o apoio a esta população tão vulnerável.

Destaca que está prevista a vinda de mais de 5000 pessoas para o nosso país e que quase “todas as regiões serão de acolhimento de refugiados”.
A responsável realça a boa integração dos perto de 70 cidadãos que já cá estão, dando o exemplo de um profissional de uma arte marcial que já está a treinar num clube. “Rapidamente se encontram voluntários que ensinam português e organizações que estão dispostas a acolher os refugiados, desde as escolas, os ATL e outras instituições sociais e empresas”, disse.

Mónica Frechaut lembrou que foi o enorme naufrágio, de cerca de 800 pessoas ocorrido em Lampedusa (Itália), em Abril do ano passado, que veio alertar a sociedade e governantes europeus para a crise que se estava a passar no Mediterrâneo. Esta já vinha detrás pois desde 2013 que as organizações que trabalham na área estavam a “adivinhar” que isto iria acontecer porque os conflitos no Médio Oriente que forçavam os movimentos migratórios não cessavam.

No início o que acontecia era que as pessoas concentravam-se nas proximidades dos países de origem, (Síria e Iraque) permanecendo no Líbano, Jordânia e Turquia, mas o “corte brutal” no programa alimentar mundial em 2014 e 2015 criou grandes dificuldades nos campos de refugiados e as pessoas começaram a dirigir-se para a Europa. Também o facto de não haver canais legais de migração que permitissem a viagem directa para um território seguro fez com que as pessoas tivessem que atravessar o Mediterrâneo.

Nas Caldas as instituições também estão envolvidas num processo coordenado pela autarquia.

Margarida Lalanda Ribeiro, directora técnica do gabinete de recursos e inovação social da Santa Casa da Misericórdia caldense, explica que esta instituição, com a sua horta, cantina e loja sociais, tem várias soluções que podem facilitar este acolhimento dos refugiados.
Também a economia social e a necessidade de encontrar formas para resolver os problemas da sociedade foram abordados nestas jornadas. Margarida Lalanda Ribeiro destaca que os problemas financeiros são um lugar comum nestas instituições, dependentes dos acordos de cooperação com o Estado, e que o grande desafio que se lhes coloca é conseguirem ser autónomas.

De acordo com a responsável, a Misericórdia caldense, que actualmente presta apoio directo e indirecto a cerca de 3000 pessoas, “precisa de consolidar o trabalho feito, ao nível da gestão de recursos, sustentabilidade financeira e interacção social e, no futuro, crescer”.
As jornadas técnicas terão continuidade, com a organização a ter já temas para trabalhar em 2017, como o facto das instituições presentes trazerem dados sobre elas próprias para depois serem trabalhados em conjunto pelos participantes no encontro, e assim partilharem experiências.
As jornadas técnicas contempla uma parte teórica, com a presença de especialistas em várias áreas sociais “Envelhecimento Ativo: Um Baile de Diferentes Papéis”, intitulou uma das oficinas