13.3.18

Cuidadores de doentes com demência sofrem grande desgaste psicológico

in Cintesis

Cerca de metade dos cuidadores de pessoas com demência apresentam níveis significativos de desgaste psicológico, com sintomas elevados de ansiedade, depressão, comportamentos obsessivos e compulsivos, hostilidade, sensibilidade interpessoal e ideação paranoide, entre outros.

A conclusão é de um estudo publicado no Perspectives in Psychiatric Care, da autoria de Wilson Abreu e Carlos Sequeira, investigadores do grupo NursID, do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde e docentes da ESEP – Escola Superior de Enfermagem do Porto.

Na população estudada, 108 pessoas com demência e seus cuidadores familiares, com residência no distrito do Porto, observou-se uma correlação significativa entre os sintomas de desgaste psicológico manifestados pelos próprios cuidadores, cuja média de idade era de 60,7 anos, e o nível de dependência dos doentes a seu cuidado, sendo que, destes, 85% eram mulheres, 55% tinham uma demência grave e 46% estavam muito ou totalmente dependentes.

Segundo os autores, a carga de trabalho, a falta de conhecimento sobre a doença e o medo da sua progressão inevitável são alguns dos fatores que podem explicar os sintomas registados, nomeadamente a chamada ansiedade fóbica.

“Os cuidadores sentem que foram deixados sozinhos, sem ajuda. Os profissionais de saúde devem discutir ações futuras e fornecer informação sobre serviços disponíveis e sobre a progressão da doença. É crucial que os sistemas de saúde sejam capazes de providenciar cuidados integrados e cuidados paliativos, nomeadamente a nível domiciliário”, pode ler-se.

O estudo propõe que os enfermeiros tenham um importante papel neste processo, através do desenvolvimento e implementação de cuidados às pessoas com demência avançada e de suporte aos seus cuidadores, incluindo programas psicoeducacionais e intervenções psicossociais focadas na cognição, na abordagem do “stress”, na comunicação, na espiritualidade e no conforto.

Este tipo de programas na área da Saúde Mental e da Psiquiatria deverá ter o condão de aliviar o desgaste psicológico dos cuidadores, com efeitos positivos na sua saúde, na sua capacidade de cuidar e na própria qualidade dos cuidados que prestam aos doentes com demência a seu cargo.

A demência é considerada uma síndrome complexa associada às populações idosas, sendo progressiva e levando, em última instância, à morte. Caracteriza-se por distúrbios em várias funções, incluindo a memória, a cognição, a orientação, a compreensão, a linguagem, a capacidade de aprendizagem e de julgamento. Estima-se que, em todo o mundo, mais de 47 milhões de pessoas vivam com demência. Prevê-se que esse número aumente para 75 milhões de pessoas em 2030 e para 135 milhões em 2050.