Céu Neves, in Diário de Notícias
Estudos recentes demonstram as dificuldades dos portugueses mais novos no acesso ao emprego, à educação, à habitação, à segurança contratual e a melhores salários
Os jovens portugueses estão a sofrer uma instabilidade salarial, de emprego e dificuldades em conseguir uma habitação própria. Na faixa etária entre os 15 e os 24 anos é cada vez mais oferecido trabalho temporário e com vencimentos mais baixos do que os que existiam em 2007 - atualmente, 621,05 euros, valores cerca de 30% abaixo do que era pago naquele ano. Um panorama difícil para os trabalhadores mais novos e que está documentado em dois estudos recentes: "Desigualdades sociais, Portugal e a Europa (Observatório das Desigualdades)" e "Jovens na Europa precisam de um futuro"(Cáritas).
Os dados referentes a Portugal do Observatório da Igualdade (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE, 2016) mostram que no nosso país um em cada dez empregos ocupados por jovens foi destruído entre 2007 e 2015 e ainda não está recuperado.
"Entre 2007 e 2015, cerca de um em cada dez empregos ocupados por jovens foi destruído e a recente melhoria económica ainda não se traduziu numa recuperação sustentada das taxas de emprego jovem. Por outro lado, os níveis mais elevados de desemprego fizeram--se acompanhar de um aumento do trabalho precário, nomeadamente do temporário", pode ler-se no documento. Os investigadores responsáveis pelo estudo salientam que a situação se agravou com a crise financeira, mas arrasta-se há 20 anos: "Assistiu-se a uma tendência de diminuição do emprego nos indivíduos entre os 15 e os 24 anos (justificada em grande parte pelo aumento da escolaridade), e uma subida do desemprego e dos contratos temporários."
A taxa de desemprego para os indivíduos entre os 15 e 24 anos atingiu o valor mais alto em 2013 (38,1%), situando-se atualmente nos 23,9%, estimativa do Instituto Nacional de Estatística. E o emprego temporário é a realidade de 66,3% dos jovens portugueses empregados em 2016, quando a média da UE era de 43,8%. O número destes contratos baixou em 2015 e 2016, mas constatou-se "que aqueles que estão nessa situação profissional de forma involuntária subiram de forma transversal".
"A situação temporária está associada a uma maior instabilidade e insegurança contratual, baixos salários e, em termos gerais, menores oportunidades", salientam Ana Rita Matias e Renato Miguel do Carmo, autores do capítulo "Precariedade e desigualdade".
Conclusão que é corroborada pelo estudo da Cáritas Europa (CARES). "Os jovens na Europa precisam de um futuro!" compara a situação de 16 países no trabalho, na educação, na habitação e na pobreza, surgindo Portugal entre os que têm mais problemas. O documento refere uma população de 1,7 milhões, 14% dos quais abandonaram a escola precocemente e 29,4% estão em risco de pobreza. Pessoas que têm dificuldade em se tornarem independentes, desde logo uma habitação. "Adquirir casa própria é muito difícil para a maioria dos jovens [segundo os dados de um inquérito da corretora norte-americana TD Ameritrade a dois mil jovens nascidos entre 1980 e 2000 publicados no final de 2017, a idade de saída de casa dos pais varia entre os 26 e os 28 anos] devido aos empregos precários e a um mercado de habitação a preços muito elevados."
A Cáritas recomenda aos dirigentes portugueses que tomem medidas a nível do emprego, desemprego, educação e habitação.