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Estudo “Mercado de trabalho em Portugal e nos países europeus: Estatísticas 2018” analisa as áreas do emprego, desemprego, tempo de trabalho, remunerações e relações laborais.
A “turbulência” causada pela crise no mercado de trabalho teve efeitos estruturais que a retoma económica não conseguiu reverter e deixou “um lastro de problemas” que “muito dificilmente” se resolverão num curto prazo, segundo um estudo.
O estudo “Mercado de trabalho em Portugal e nos países europeus: Estatísticas 2018”, que será apresentado na quarta-feira, em Lisboa, analisou as áreas do emprego, desemprego, tempo de trabalho, remunerações e relações laborais, com base em estatísticas apresentadas em estudos e relatórios, principalmente do INE e do Eurostat.
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“A crise económica e financeira que assolou o país teve impactos fortíssimos no emprego e no desemprego em Portugal”, afirma o estudo.
Apesar da retoma económica ter permitido melhorar os valores do desemprego oficial, os impactos da crise tiveram consequências “devastadoras” na vida das famílias, no plano coletivo, destruindo “centenas de milhares de postos de trabalho”.
“Os mais pobres perderam mais do que o resto da população” devido ao desemprego e ao “recuo do estado social”, muitos desempregados não conseguiram arranjar trabalho, e “uma horda de ativos”, alguns bastante qualificados, “abandonou um país que ficou mais velho.
A exclusão social dos que ficaram e “a subtração à força de trabalho do país” devido à emigração deixaram “um lastro de problemas que muito dificilmente se resolvem no curto prazo”, sublinha o estudo, que é divulgado no colóquio comemorativo dos 10 anos do Observatório das Desigualdades.
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Em declarações à agência Lusa, o autor do estudo e investigador do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES-IUL), Frederico Cantante, adiantou que o período da crise veio também agudizar a vinculação precária.
No setor privado, cerca de um terço dos trabalhadores tem contratos precários e dois terços da população que trabalha a tempo parcial gostaria de trabalhar mais horas.
“A emergência” da precarização das relações laborais “é cada vez mais clara”, disse Frederico Cantante, salientando que “Portugal é um dos países da União Europeia onde os contratos precários têm “uma disseminação maior”.
Para o aumento da precarização das relações laborais, contribui “o peso cada vez maior do setor dos serviços, e em alguns setores, onde as relações industriais típicas não se aplicam tanto” e a “elevada rotatividade na contratação de pessoas com este tipo de contratos”.
Por outro lado, “não existem penalizações em relação a este tipo de contratação”, disse.
Também os trabalhos criados nos últimos anos são “muitíssimo mal remunerados”, não se diferenciando muito do valor do salário mínimo nacional.
O estudo demonstra que é no “topo do topo” que se estabelece o principal hiato na distribuição dos ganhos salariais: “O ganho médio dos 0,01% mais bem pagos é cerca de 50 vezes superior face à média apurada para a generalidade dos trabalhadores”.
“Portugal é um dos países europeus em que o nível de concentração dos salários nos 20% mais bem pagos é maior”, observou Frederico Cantante.
Também se situa acima da média dos países europeus em relação ao tempo de trabalho anual e semanal, “o que vem desconstruir a ideia que somos uns malandros, uns preguiçosos”, adiantou.
Mas a questão que se coloca não se prende com o tempo de trabalho, mas com a produtividade, sendo a este nível que Portugal “diverge negativamente” dos países europeus.
O investigador salienta que a Educação “é o principal fator de entrave” ao desenvolvimento e crescimento sustentável da economia a médio e longo prazo.
“Apesar dos aumentos bastantes acentuados da escolaridade dos portugueses, cerca de metade da população empregada não vai além do ensino básico”, uma situação que apenas se compara com Malta.