Ana Cristina Pereira, in Público on-line
Várias associações e activistas de etnia cigana pedem a "todas as entidades que reflictam sobre as condições desumanas em que se encontram estas famílias".
Diversas associações e activistas de etnia cigana tomaram uma posição conjunta contra o que lhes parece ser o “desprezo” pelas pessoas que perderam os seus haveres em Cerro do Bruxo, em Faro. Recusam-se a ser invisíveis e reclamam respeito.
O presidente da câmara, Rogério Bacalhau, descarta a hipótese de atribuir habitações sociais, pelo menos no curto prazo, às cerca de 100 pessoas que foram afectadas pelo temporal no fim-de-semana e estão no pavilhão municipal. “Logo que as condições o permitam, vão ter que regressar aos locais onde permanecem há muitos anos - estamos a estudar soluções para o futuro.”
“Estamos indignados com a facilidade de alternativas propostas pelo município de Faro, que passam pela doação, mais uma vez, de madeira para reconstruir as barracas”, lê-se no texto subscrito pelas seguintes organizações: Associação para o Desenvolvimento das Mulheres Ciganas; Associação de Investigação e Dinamização das Comunidades Ciganas; Associação para a Igualdade de Género nas Comunidades Ciganas; Associação Cigana de Coimbra; Letras Nómadas; Sílaba Dinâmica; Ribaltambição.
Já há oito anos uma intempérie deixou aquelas famílias na rua. E a autarquia, então presidida por Macário Correia, ofereceu tábuas para que reconstruíssem as suas barracas, recorda Bruno Gonçalves, dirigente da Letras Nómadas. Reconhecendo que “não se pode, de um momento para outro, construir habitação social”, entende que um realojamento digno dependeria sempre de vontade política. E não a vê.
Não notam sequer vontade de confortar aquelas pessoas. “Não queremos acreditar que os nossos responsáveis governamentais e políticos da nossa praça tenham dualidade de critério na temática da solidariedade, mas não conseguimos ver nenhum partido político, responsáveis governamentais no terreno, para 'confortarem os desabrigados do temporal”, lê-se no documento enviado nesta terça à noite ao PÚBLICO e à Lusa. “A nossa pergunta é simples: porquê?”
A crítica, traduz Bruno Gonçalves, vai para a câmara, para a secretaria de Estado da Habitação, para o Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana, para o Alto Comissariado das Migrações, mas também para a Presidência da República. “É da praxe que ele [Marcelo Rebelo de Sousa] esteja em todo o tipo de calamidades que afectam a população portuguesa de Norte a Sul do país." Ali não esteve. "Voltamos a questionar: porquê?”
Não vêem sinal de manifestações públicas de solidariedade, como noutras calamidades. O que vêem é manifestações de ódio nas redes sociais e nas caixas de comentários dos órgãos de comunicação social. “Todos os dias cidadãos deste país convidam-nos a morrer”, diz Bruno Gonçalves, revelando um certo cansaço com uma luta pela cidadania que faz dentro e fora das comunidades. “Que efeito tem isto na auto-estima?”
A mensagem que querem deixar é esta: “Pedimos a todas as entidades que reflictam sobre as condições desumanas em que se encontram estas famílias! […] O direito de igualdade, a declaração dos direitos humanos as legislativas que existem de protecção não podem ficar apenas no papel! […] Não somos apenas ciganos, somos portugueses, somos acima de tudo seres humanos!”
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