Raquel Albuquerque, in Expresso
Alguns indicadores de pobreza melhoraram em 2018, mas a taxa manteve-se quase igual a 2017, mostra o INE. O risco diminuiu entre os jovens e os idosos, mas aumentou noutros casos. Número de trabalhadores pobres subiu, ou seja, há agora mais pessoas empregadas a viver com menos de 501 euros por mês
A taxa de risco de pobreza em 2018 estabilizou nos 17,2%. A diferença é de apenas menos 0,1 ponto percentual em relação aos 17,3% de portugueses que, em 2017, viviam abaixo do limiar de pobreza, mostram os dados sobre rendimentos e condições de vida divulgados esta terça-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). Porém, há um grupo específico onde a pobreza aumentou com mais intensidade no ano passado: as famílias monoparentais.
Uma em cada três famílias constituídas só por uma mãe ou um pai com pelo menos uma criança (33,9%) está em risco de pobreza. E face ao ano anterior a diferença é de 5,6 pontos percentuais, o que faz das famílias monoparentais o grupo em que a pobreza mais se intensificou em 2018. Carlos Farinha Rodrigues, especialista em pobreza e desigualdades económicas, sublinha precisamente esse como o aspeto "mais alarmante" dos dados agora divulgados.
"Estas famílias representam um grupo pequeno mas sabemos que em 2017 constituíam 7% da população pobre. Para 2018 ainda não temos o número atualizado", indica o professor do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), alertando para a necessidade de prestar uma "atenção especial" a este caso. O especialista sublinha porém que a evolução geral dos vários indicadores de pobreza no ano passado é positiva, sobretudo tendo em conta a subida dos rendimentos. Só que nem todos a sentiram da mesma forma.
Ainda que com diferenças muito ténues, foi entre os jovens e a população idosa que a pobreza diminuiu, passando de 19% para 18,5% entre os menores de 18 anos e de 17,7% para 17,3% entre os idosos. É de sublinhar que, em 2017, em contraciclo com a melhoria de todos os indicadores de pobreza, se tinha registado um agravamento da pobreza entre as pessoas com mais de 65 anos.
"Apesar da redução do risco de pobreza infantil, em 2018, a presença das crianças num agregado familiar continuava a estar associada a um risco de pobreza acrescido, sobretudo no caso dos agregados constituídos por um adulto com pelo menos uma criança dependente (33,9%) e naqueles constituídos por dois adultos com três ou mais crianças dependentes (30,2%)", conclui o INE. Apesar do risco de pobreza nas mulheres também ter descido ligeiramente, continua a haver mais mulheres em situação de pobreza (17,8%) do que homens (16,6%).
É de referir ainda que o risco de pobreza teve uma ligeira descida entre os reformados, mas aumentou no caso das pessoas empregadas e desempregadas. Ou seja, há 10,8% de trabalhadores pobres em Portugal que vivem com menos de 501 euros por mês.
A taxa de risco de pobreza mostra a proporção de pessoas a viver em Portugal que em 2018 viviam com menos de 501 euros por mês. Este valor é a chamada linha de pobreza, que corresponde a 60% da mediana do rendimento por adulto. Sempre que os rendimentos aumentam, esta linha também sobe, fazendo assim oscilar tecnicamente o número de pessoas em situação de pobreza. Em 2017, ser pobre era viver com menos de 468 euros por mês. Mas, segundo este indicador, em 2018, viver em risco de pobreza é ter menos de 501 euros mensais.
Um outro indicador, usado para comparar os países europeus, junta ao número de pessoas em risco de pobreza as que estão em risco de exclusão social. E em 2019, cerca de 2,2 milhões de portugueses viviam nesta situação. Isso corresponde a 21,6% da população, uma percentagem que não teve qualquer diminuição em relação ao ano anterior.
Desigualdades diminuem mas ainda são acentuadas
Ainda que o nível de desigualdades económicas em Portugal se mantenha elevado, dois dos indicadores usados para as medir atenuaram-se em 2018. O coeficiente de Gini, que mede a distribuição de rendimentos entre os mais ricos e os mais pobres, baixou para 31,9%. E este é o valor mais baixo desde 2003, quando o INE começou a publicar esta série estatística.
Outro dado positivo é a redução da privação material, ainda que 15,1% dos portugueses vivam sem capacidade de assegurar o pagamento de algumas despesas, como as rendas, o consumo de carne ou peixe pelo menos de dois em dois dias ou o aquecimento da casa. Segundo o INE, apesar de a percentagem ter descido, 18,9% dos portugueses não conseguem manter a casa adequadamente aquecida, por incapacidade de pagar essa despesa.