16.11.20

É nos Açores que o RSI é mais baixo: 86,11 euros por beneficiário

Mas nem todo o arquipélago é igual. A intensidade de pobreza nos Açores varia de ilha para ilha: e é em São Miguel que a pobreza é mais penosa. Com uma densidade populacional superior às restantes ilhas (cerca de 80% da população total dos Açores) e com “um problema de transmissão geracional da pobreza”, a maior ilha dos Açores é também onde se concentram 74% do total de beneficiários do RSI nos Açores. Se no Pico, no Faial, nas Flores e no Corvo o número de beneficiários é inferior à média nacional, 14,1% dos residentes em São Miguel necessitam deste apoio, apontam os dados do Instituto Nacional de Estatística recolhidos em 2019.

O estigma da pobreza

Apesar dos traços gerais desenhados pelas estatísticas, o especialista destaca que “os beneficiários não são todos iguais”, até porque os dados apresentados dizem respeito apenas ao titular e não à totalidade de beneficiários que acabam por ter acesso ao apoio nos Açores e entre os quais “cerca de 33% são crianças e jovens até aos 15 anos”. Além disso, o valor que cada beneficiário recebe pode ir dos “dez aos 300 euros”. “A incapacidade de dar respostas mais firmes”, explica o professor, “deve-se à ausência de estudos sobre a pobreza em Portugal”. O especialista nota que “o último grande estudo sobre o RSI foi feito ainda durante o Governo de Guterres” e que desde então têm sido feitas apenas “algumas avaliações”.
Nos Açores, os salários continuam a ser tendencialmente mais baixos do que a média do paísFernando Diogo, sociólogo e professor na Universidade dos Açores

“É preciso compreender que o combate à pobreza não esse faz apenas com estas medidas. Estas são medidas que ajudam a mitigar a intensidade e dureza da pobreza. Mas é preciso apostar em medidas mais estruturais, que passam pelo investimento em educação, na formação e em emprego de qualidade”, argumenta. “Gasta-se tanto na requalificação de uma rua como num programa de combate ao abandono e insucesso escolar”, lamenta o especialista. Uma escolha que “reflecte a pressão das elites locais” e que “explica a actual situação nos Açores”.