25.1.21

OIT prevê recuperação “incerta e desigual” da economia em 2021

Raquel Martins, in Público on-line

A vacinação contra a covid-19 traz sinais encorajadores para a recuperação económica no segundo semestre de 2021. O problema, alerta a Organização Internacional do Trabalho, é que essa retoma corre o risco de deixar pelo caminho as mulheres, os jovens e os sectores mais atingidos pela crise.

Depois de uma perda do emprego e de uma redução dos rendimentos sem precedentes, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) antecipa uma recuperação da economia global na segunda metade de 2021, com a generalização da vacina contra a covid-19. O problema é que essa recuperação, alerta num relatório divulgado nesta segunda-feira, é incerta e não se fará sentir de igual forma em todos os grupos da população, nem em todos os países, deixando para trás os que estão a ser mais atingidos pela crise.

“Apesar das expectativas de que ocorrerá uma robusta recuperação económica no segundo semestre de 2021, com a vacinação contra a covid-19, a economia global ainda enfrenta elevados níveis de incerteza e há o risco de a recuperação ser desigual”, refere o relatório A covid-19 e o mundo do trabalho.

O relatório apresenta três cenários de recuperação. O cenário base (que se baseia nas previsões do Fundo Monetário Internacional de Outubro de 2020) projecta uma perda de 3% das horas de trabalho em 2021 (em comparação com o quarto trimestre de 2019), o que equivale a 90 milhões de empregos a tempo completo.

No cenário pessimista, que assume um progresso lento na vacinação, perspectiva-se uma diminuição das horas de trabalho em 4,6%.

Finalmente, o cenário optimista – que assume que a pandemia estaria sob controlo e um súbito aumento da confiança dos consumidores e das empresas – prevê um declínio de apenas 1,3%.

“Os sinais de recuperação que vemos são encorajadores, mas são frágeis e muito incertos, e devemos ter presente que nenhum país ou grupo pode recuperar sozinho”, afirmou o director-geral da OIT, Guy Ryder, na apresentação do documento.

As novas estimativas apresentadas no relatório confirmam o enorme impacto que os mercados de trabalho sofreram em 2020, concluindo que 8,8% das horas de trabalho globais foram perdidas no ano passado (relativamente ao quarto trimestre de 2019), o que equivale à perda de 255 milhões de empregos a tempo completo.

A OIT alerta que 71% das perdas de emprego (81 milhões de pessoas) assumiram a forma de inactividade, e não de desemprego, o que significa que as pessoas deixaram o mercado laboral porque não puderam trabalhar devido às restrições pandémicas ou porque desistiram de procurar trabalho. “Focar o problema exclusivamente no desemprego subestima drasticamente o impacto da covid-19 no mercado de trabalho”, sublinha a organização.

Mais uma vez, a OIT alerta que as mulheres têm sido mais afectadas do que os homens pelas perturbações do mercado de trabalho. Ao nível global, as perdas de emprego das mulheres situam-se nos 5%, contra 3,9% dos homens, sendo mais provável ver mulheres a abandonar o mercado de trabalho ou tornar-se inactivas do que homens. A população jovem (15-24 anos de idade) trabalhadora também foi particularmente atingida, tendo registado uma queda de 8,7%, em comparação com 3,7% para a população adulta, o que “realça o risco de uma geração perdida”, refere o relatório.

O relatório destaca ainda as preocupações da OIT com uma “recuperação em forma de K”, em que os sectores e trabalhadores mais atingidos poderão ser deixados para trás, levando ao aumento da desigualdade.

Para ajudar a que a recuperação seja mais transversal, a OIT deixa um conjunto de recomendações defendendo políticas de apoio aos rendimentos e de promoção do investimento; medidas selectivas dirigidas às mulheres, jovens, trabalhadores pouco qualificados; apoios aos sectores mais atingidos e um apoio internacional aos países de baixo e médio rendimento que têm menos recursos financeiros para lançar processos de vacinação e promover a recuperação económica e do emprego.