por Céu Neves, in Diário de Notícias
A política agrícola está errada: produzimos demais e desperdiçamos, apesar da fome em muitas áreas do mundo. Hilal Elver está em Lisboa para a conferência "Direito humano a uma alimentação adequada".
É desde 2014 relatora da ONU para o Direito à Alimentação. O que é que fez neste primeiro ano?
Não estava familiarizada com os pormenores e há que definir prioridades. A minha prioridade, o que penso que é mais importante, é o empoderamento das mulheres, a relação entre o direito à alimentação e o papel das mulheres na agricultura. É uma das formas de eliminar a fome e de fazer que as crianças sejam mais saudáveis.
As mulheres podem fazer diferente?
Têm um papel fundamental, especialmente as mulheres rurais em África e no Sul Asiático. Os homens vão para as cidades trabalhar ou são refugiados. As mulheres ficam em casa, com as terras e as crianças. Mais de 60% dos agricultores são mulheres e só têm 2% do direito da propriedade, esse pertence ao pai, ao marido ou aos irmãos. Elas tratam da terra e dos filhos e não têm dinheiro nem apoios. Isso tem de mudar. Há projetos dedicados às mulheres, nomeadamente na ONU, mas é minha intenção incrementá-los para que o seu papel se torne mais visível.
Falou em crianças saudáveis, mas vivemos num mundo de contrastes. Se, por um lado, se morre de fome, por outro morre-se por comer em excesso e mal.