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Em destinos tradicionais como Suíça, França e Luxemburgo, portugueses trabalham sobretudo nas obras, restaurantes, limpezas e agricultura
Há décadas que os portugueses procuram França, Suíça, Canadá e Luxemburgo para conseguirem uma vida melhor. No entanto, são dos que vivem de forma mais precária nestes destinos mais tradicionais da emigração. Muitos, por vergonha, recusam regressar.
De acordo com os dados oficiais provisórios, publicados em setembro de 2015, residiam na Suíça 278 034 cidadãos portugueses, o que representa um aumento de mais de 2,5% face a 2014. Os setores onde a comunidade portuguesa está mais empregada continuam a ser a construção civil, a hotelaria e restauração e a agricultura.
Esta realidade explica a manutenção de uma elevada taxa de desemprego entre a comunidade, maioritariamente sazonal. O desemprego nos meses de inverno é normalmente superior em 50% face ao “pico” de emprego de junho, julho e agosto. Neste sentido, em 2015, o desemprego na comunidade portuguesa radicada na Suíça atingiu o seu máximo em janeiro, com 14 774 desempregados.
No total, no final de 2015, cerca de 9% dos desempregados eram portugueses – um número que aumenta para cerca de 18,8% se considerarmos apenas os de-sempregados de nacionalidade estrangeira naquele país. De acordo com dados do Ministério dos Negócios Estrangeiros, os cantões com mais desemprego encontram-se, na sua maioria, na Suíça francófona, coincidindo com os cantões onde se verifica um maior número de portugueses.
falta de formação No Luxemburgo vivem cerca de 100 mil portugueses, que representam 19% da população. Mas as condições precárias têm dificultado a vida a muitos, que não regressam por “orgulho”. De acordo com José António de Matos, dirigente da Confederação da Comunidade Portuguesa no Luxemburgo, a falta de formação e de conhecimento de línguas como o francês, o alemão e o luxemburguês fazem com que a mão-de-obra portuguesa seja absorvida maioritariamente pela hotelaria, construção civil e serviços de limpeza. “As pessoas vêm à procura de contratos, mas agora é muito difícil. O que encontram são trabalhos precários. Tanto podem trabalhar um dia, uma semana ou um mês”, explica, acrescentando que um terço dos desempregados no Luxemburgo são de origem portuguesa. “Há um outro problema: as pessoas que estão cá há mais tempo estão numa idade que já não permite a reconversão profissional quando as empresas em que trabalhavam fecham”, sublinha.
José António de Matos não esconde que existem casos de sucesso, mas frisa que a falta de conhecimento da língua não ajuda sequer aqueles que dominam as áreas nas quais pretendem trabalhar. “Na saúde é precisa muita mão-de-obra. Mas existem casos de enfermeiros portugueses a trabalhar nas limpezas por falta de conhecimento das línguas que se falam aqui no Luxemburgo”, exemplifica.
As dificuldades de alguns portugueses neste país são conhecidas. No início deste mês, várias notícias denunciavam que os portugueses são os que mais recorrem às cantinas sociais no Luxemburgo. Charlotte Marx, assistente social da Voz da Rua, indica ao i que o perfil dos portugueses que mais utilizam este tipo de ajuda não está apenas ligado aos que nem sequer têm casa. “Há sem-abrigo que têm problemas de toxicodependência, mas também pessoas que trabalham e têm dificuldade em fazer face às despesas e aproveitam para vir comer aqui. E pessoas idosas que recebem pensões de reforma muito baixas e não têm dinheiro suficiente para viver.”
Para José António de Matos, o problema é sério porque muitos, a trabalhar precariamente, não ganham sequer para fazer face às despesas. “Tudo aqui é caro. Um café são dois euros”, explica, acrescentando que, sem saberem por quanto tempo têm trabalho, muitos não conseguem garantir sequer o ordenado mínimo.
No final do ano passado, os trabalhadores portugueses no Luxemburgo eram, aliás, os mais expostos ao risco de cair na miséria, com um quinto a ganhar menos que o limiar de pobreza, segundo o relatório “Coesão Social e Emprego”.
Em França por menos dinheiro As dificuldades também se verificam há anos em França, onde se estima que existissem 509 mil pessoas com nacionalidade portuguesa em 2012. Muitos emigrantes estão a deparar-se com um problema: trabalham por menos dinheiro, mais horas e sem vínculo. Segundo um trabalho de investigação da AFP publicado em 2013, os portugueses eram dos trabalhadores estrangeiros subcontratados por agências de trabalho temporário que chegavam a ganhar 785 euros para trabalharem 60 horas por semana. A Direção-Geral do Trabalho francesa registava 145 mil destes trabalhadores subcontratados, enviados pelos empregadores para outros países para realizarem prestações de serviço. Mas de acordo com a agência francesa, o número real poderia ser duas vezes superior.
Portugueses no Canadá Também no Canadá, os setores que mais receberam mão-de-obra nacional foram a agricultura e a construção civil. Segundo dados avançados ao i pela Embaixada de Portugal em Otava, há essencialmente “pessoas de uma faixa etária avançada, originários dos Açores, que migraram para o Canadá nos anos 60 para trabalhar na construção civil e agricultura. Os seus descendentes – luso-canadianos – têm procurado trabalho noutros setores (mormente serviços)”.
A comunidade portuguesa encontra-se localizada, na maioria, nas proximidades de dois centros urbanos: Toronto, em Ontário, e Montreal, no Quebeque.