1.3.16

Refeições sociais estão a ser menos procuradas

Lídia Barata, in A Reconquista

A resposta é necessária, mas refeições começam a ser menos procuradas. Contudo, é preciso continuar alerta.

22 Cantinas em todo o distrito 329 Agregados beneficiários 972 mil Refeições entre 2012/2015 2,5 m€ Investimento entre 2012/2015 309 mil Refeições em 2015 736 mil€ Investimento em 2015

Fonte: EAPN Cantinas Sociais São 329 os agregados familiares benefi ciários das refeições fornecidas pelas 22 cantinas sociais que foram criadas no distrito e são geridas por nove instituições particulares de solidariedade social (IPSS), uma fundação, uma mutualista e 11 misericórdias. Mas desde meados de 2014 que os pedidos começaram a diminuir, se bem que a situação está longe de estar resolvida.

Os agregados beneficiários são constituídos por pessoas “com carência económica, com rendimentos mensais muito baixos, com famílias assoladas pelo desemprego, com idosos, defi cientes ou incapazes e sem condições de confecionar refeições”. Foi para responder a esta emergência alimentar que, em 2012, a Segurança Social, com a União das Misericórdias e a União das IPSS criaram estas cantinas sociais, mas, impunha-se avaliar o seu funcionamento e de que forma respondem adequadamente a estas situações prementes. Ter uma refeição “quente e equilibrada” é para a maioria dos benefi ciários a grande vantagem deste serviço.

Paula Montez, técnica do Núcleo Distrital da Rede Europeia Anti Pobreza (EAPN) desenvolveu entre 2014 e 2015, um estudo, intitulado “Um olhar sobre as cantinas sociais no distrito de Castelo Branco”, que assentou num inquérito aos 329 agregados familiares beneficiários (166 com homens titulares e 163 a cargo de mulheres), no sentido de “poder avaliar o serviço prestado e poder ajustar a melhorar as respostas”. O estudo foi apresentado segundafeira, dia 22 de fevereiro, num encontro distrital da EAPN, que decorreu em Alcains, com o apoio do Lar Major Rato.

Os números fazem o retrato da realidade. A maioria destes agregados situa-se no concelho da Covilhã (119), seguido de Castelo Branco (95) e Fundão (38), sendo os restantes agregados distribuídos pelos concelhos mais rurais. Em termos de escolaridade, a maioria também apresenta instrução muito baixa, sendo que 20 não têm mesmo escolaridade, mas havendo também a registar sete agregados com escolaridade de nível superior. E em termos de idades, grande parte também se situa na faixa entre os 50 e 60 anos (96 agregados), o que “a juntar à baixa instrução, dificulta a sua reintegração profi ssional”.

Já 27 dos benefi ciários são jovens, até 30 anos, com fi lhos menores. Em termos de rendimentos, 129 agregados são beneficiários do Rendimento Social de Inserção (RSI), seguindose 76 que vivem de baixas pensões e reformas, 55 sem qualquer prestação e 39 com um vencimento (fabril ou rural). “Os 55 sem qualquer prestação, são sobretudo homens, que vivem sozinhos, em zonas rurais, fazem horta e, quando os chamam, alguns biscates em quintas, mas como têm as casas (mesmo sem luz nem água) em nome deles, não são contemplados com o RSI”, explica Paula Montez. Mas a técnica foi mais longe e, em numerário, 159 agregados vivem com uma rendimento até 200 euros por mês; 65 têm até 300 euros por mês; 42 até 400 euros por mês; e 35 têm um rendimento mensal de 400 euros. Mas recorrem à cantina social “porque os rendimentos são insuficientes”, uma resposta dada por 293 agregados.

Já 19 recorrem por incapacidade física, e seis por não terem condições para fazer as refeições.

Muitos souberam deste apoio pelas IPSS, mas alguns “aqueles que precisam, mas têm vergonha de pedir”, foram os familiares ou vizinhos que os encaminharam, mas também houve encaminhamentos feitos pela igreja e pelo hospital.

Do total dos inquiridos, 92 benefi cia deste apoio à seis meses ou um ano, mas 153 estão a receber refeições há mais de um ano, um número que preocupa os responsáveis, que defendem que o trabalho tem de continuar no sentido de “promover politicas de inclusão ativas, além de combater a desigualdade social, com políticas fi scais que levem a um crescimento económico e sustentável que ajude a criar emprego, o que levará, consequentemente, a uma diminuição das carências destes agregados”.