"É um incentivo e uma luz no fundo do túnel"

L.P.W., in Jornal de Notícias

Sofia há muito que tinha abandonado a escola quando engravidou aos 17 anos. Vive na casa dos pais e o subsídio social de maternidade é o que permite não faltar nada ao pequenino João. O que não carece no seu agregado familiar são fragilidades. O pai e o irmão de Sofia recebem o Rendimento Social de Inserção (rendimento mínimo). O primeiro é alcoólico. A mãe, diabética, está desempregada e vai vivendo com o subsídio de desemprego.

"Dá muito jeito. É com esse dinheiro que compro tudo o que o menino precisa", defende Sofia com uma carinha digna de modelo fotográfico. O menino, ao lado, com um ar muito bem disposto, está impecavelmente tratado. "A Sofia é muito boa mãe. Olhando para a idade dela, eu nunca pensei que ela viesse a ser grande coisa. Mas é. Acorda de noite as vezes que são precisas, trata muito bem dele. É atenta, desenrasca-se bem", conta a mãe.

A mãe que está sempre ali por casa ajuda Sofia, para ela poder "ir dar uma voltinha e arejar de vez em quando". E Sofia não parece querer muito mais do que isto. Conta que arranjou uma casa com o pai do João e que irá para lá morar em breve. E conta que quer trabalhar. Mas não sabe no quê, nem como começar. Sabe apenas que quer "trabalhar com o público". "Podia ser como ajudante de cabeleireira", exemplifica, dizendo-o como se isso fizesse parte dos planos só porque é mais rápido. E di-lo de forma displicente. Tudo é "logo se vê". Não pensa, por exemplo, em voltar a estudar. A mãe não refuta. "Tem que ser alguma coisa. É preciso é que dê dinheiro ao fim do mês", justifica Sofia. E dinheiro não é algo que abunde ali. A mãe de Sofia, por exemplo, não compra a medicação para os diabetes para poder pagar a água. Um breve olhar pela casa, extremamente limpa e organizada, não detecta nenhum sinal de falsa pobreza. Antes dificuldades materiais e alguma pobreza de vontade.

"Temos muitas ajudas e precisamos. É a renda, são as contas, é a comida. A associação que ajudou a Sofia durante a gravidez dá-nos fraldas e alimentos. O subsídio de maternidade vai todo para o menino. Ainda por cima, ele só bebe leite de farmácia que não é barato", conta a mãe de Sofia.

Sofia ouve e acrescenta: "O subsídio social de maternidade é uma boa ideia e um incentivo. Uma luz ao fundo do túnel para quem descobre que está grávida e fica em desespero por se ver só e sem dinheiro para tratar do bebé ".

Sofia confessa que "o aborto nunca lhe passou pela cabeça" e sublinha que sempre contou com o apoio dos pais. Ainda assim, diz, pela primeira vez num tom veemente: "Esquecer a pílula, nunca mais".