in Jornal Público
Os doentes internados em hospitais psiquiátricos são uma gota no oceano da saúde mental, a maior parte das pessoas com doenças graves, como a esquizofrenia, a doença bipolar e a depressão grave, estão na comunidade e quase não têm instituições que os apoiem, critica a presidente da Federação das Entidades de Reabilitação de Doentes Mentais, Fátima Jorge Monteiro. Há cerca de dez pedidos por semana de doentes ou de famílias em cada uma das 20 associações que integram a federação, a maior parte são recusados.
Os números são de 2006, quando foi feita a última avaliação, e nessa altura havia 992 utentes apoiados em centros de dia, residências de grupo e grupos de ajuda mútua. "Seria necessária uma cobertura para cinco vezes mais", diz Fátima Jorge Monteiro. Pretende-se que as pessoas que recebem apoio deixem de estar isoladas, em casa sem nada para fazer; as associações tentam encontrar soluções para cada caso, o que pode passar por levar o doente a retomar os estudos ou a encontrar emprego.
A legislação que dá suporte a estas primeiras experiências de apoio a doentes mentais na comunidade é de 1998 e é provisória. Desde essa altura têm aguardado soluções mais definitivas e pelo alargamento a todo o país, explica a responsável. "As necessidades são muitas, mas há uma distribuição irregular. A zona do Alentejo não tem respostas", sublinha.
"O prolongamento da situação provisória tem tido como consequência a reduzida implementação de respostas face às necessidades da população com doença mental e das famílias." A federação foi consultada no final de 2008 sobre o novo diploma de cuidados continuados em saúde mental, mas desconhece a versão definitiva, que, sublinha a responsável, deve dar grande importância ao apoio domiciliário. Alerta ainda para a necessidade "de evitar respostas massificadas", que alberguem grande número de doentes, sob pena de se criarem mini-instituições que pouco ajudam à integração do doente na comunidade. C.G.