Alexandra Figueira, in Jornal de Notícias
Inquérito revela que empresas não planeiam investir nem contratar.Associação reclama apoios diferentes
António Marques, presidente da AIMinho, pega nos resultados do inquérito aos associados e desfia o retrato das pequenas e médias empresas minhotas, e não só. "Falta de confiança, falta de tesouraria e uma tentativa para aguentar o emprego".
Resume assim, em três ideias, as respostas de mais de três centenas de associados a um inquérito periódico, no qual a associação avalia o clima de negócios.
Primeiro a falta de confiança, com sete em cada dez empresas a sentirem que a situação económica se agravou, nos últimos meses. Quase todas dizem não encarar o futuro com optimismo suficiente para investir ou contratar pessoas - aliás, nos últimos meses também não reforçaram o quadro de pessoal. Mas também evitam despedir. Só um terço das empresas disse ter dispensado gente nos últimos quatro meses, tantas quantas respondem ter a intenção de o fazer no futuro próximo - um problema que, a verificar-se, agravará o desemprego, numa região onde a taxa já passou os 10%.
Um outro problema identificado pela AIMinho é a falta de dinheiro para pagar as despesas mais imediatas. Uma vez de 40% das empresas exportam, levantam-se dois problemas: os seguros de crédito, "ainda por resolver", e o recebimento de IVA do Estado, "que costuma atrasar o pagamento", disse António Marques.
Além disso, oito em cada dez inquiridas dizem ser cada vez mais difícil cobrar as facturas dos clientes para ter dinheiro em caixa. E se a maioria costuma recorrer a empréstimos da Banca, é certo que nos últimos meses não o tem feito - ou conseguido fazer, admite o responsável associativo.
Ainda, mais de dois terços dos inquiridos disseram não ter recebido apoios públicos, nos últimos meses, fazendo uma avaliação negativa (40%) ou indiferente (30%) do impacto das medidas públicas de combate à crise. Além de que dois terços são credores do Estado, mas só um terço diz que o sector público cumpre as suas obrigações a tempo e horas.
A dificuldade em conseguir dinheiro a curto prazo - seja cobrando facturas, seja recebendo apoios públicos ou até o dinheiro que o Estado deve - é considerada central por António Marques. Daí desfiar uma série de medidas que a Associação Industrial do Minho gostaria de ver tomadas.
Na relação financeira com o Estado, o presidente da associação dispara três medidas. Logo à partida, acabar com o Pagamento Especial por Conta (porque nada garante que este ano a empresa tenha o mesmo rendimento que teve no ano passado).
Em segundo lugar, um mecanismo de acerto de contas com o Estado, em que se via o que a empresa deve e tem a haver e só a diferença entre os dois valores é que mudava de mãos, para evitar situações em que, por exemplo, a empresa facturou uma obra ao Estado e teve que pagar IVA, apesar de o Estado não ter pago o serviço.
Ainda, fazer duas mudanças no IVA, para que seja pago só quando o cliente saldar a factura e não antes e para que o Estado faça as devoluções dentro do prazo legal.
"A base da retoma está nas micro, pequenas e médias empresas e o Governo ainda não percebeu isso", afirmou o dirigente associativo. E defende que o Estado devia usar o seu próprio dinheiro para o programa PME Invest e para saldar as suas dívidas junto das empresas, em vez de recorrer a mais crédito da Banca.