por Céu Neves, in Diário de Notícias
Os concelhos de Mafra, Montijo e Palmela têm um elevado número de freguesias que representam um risco máximo para a saúde. Falta-lhes serviços de saúde e infra-estruturas desportivoa e culturais, os equipamentos escolares estão degradados e as acessibilidades são más, segundo um estudo sobre pobreza e saúde, publicado ontem na revista de Estudos Demográficos do Instituto Nacional de Estatística (INE).
São más notícias para os residentes naqueles concelhos, mas Helena Nogueira, a autora do estudo, fez uma análise ao nível da freguesia, o que significa que nem todos os munícipes têm razões de queixa. E nem todos os que têm casa nos concelhos de baixo risco podem considerar que têm as condições ideais, embora a maioria tenha mais hipóteses de ter uma vida saudável. É o caso de quem reside no concelhos do Seixal, Odivelas, Cascais, Sesimbra e Oeiras, que têm maioritariamente freguesias consideradas de risco mínimo ou moderado.
Com o título "Pessoas pobres, lugares pobres, saúde pobre", a geógrafa analisou as condições de vida na Área Metropolitana de Lisboa. A partir de várias fontes de informação e com base em 18 indicadores - ambiente, emprego, educação, desporto, transportes, lazer, apoios, segurança, entre outros - identificou as freguesias menos e mais saudáveis. E parte de uma primeira evidência, que é: "pessoas pobres têm mais probabilidade de residir em áreas de privação e a interacção entre pobreza individual e privação da área resulta numa saúde mais pobre, em comportamentos menos saudáveis e num aumento das desigualdades de saúde".
O concelho de Mafra é o que tem um maior número de freguesias com risco máximo para a saúde (35,5%), seguindo-se o Montijo (25%) e Palmela (20%). Também no centro de Lisboa (15,1%) e no de Almada (9,1%) existem situações que a autora considera perigosas, mas os maiores problemas encontram-se na periferia.
"À medida que o referido espaço urbano saudável dá lugar ao centro ou às periferias, a capacidade de promover e proporcionar saúde vai diminuindo, aumentando em contrapartida o número e a gravidade das situações de maior risco", diz Helena Nogueira. E dá os exemplos dos concelhos de Azambuja e Alcochete, que não apresentam situações gritantes, "mas o risco, moderado ou elevado, surge na maioria ou até na totalidade da área concelhia". Também em Azambuja, Vila Franca de Xira e Alcochete encontramos localidades mais vulneráveis.
São os espaços urbanos intermédios, localizados entre as áreas de maiores e menores centralidades, aqueles que revelam maiores fragilidades, já que são pouco qualificados e funcionam como "corredores". Os resultados "sugerem que este espaço pode funcionar não como «corredor», no sentido de passagem e esvaziamento, mas como «galeria», possibilitando acumulação e concentração de vantagens", sublinha a geógrafa.