5.8.09

"Tivemos que sair de Portugal devido à falta de oportunidades de negócio no país"

Ana Rita Faria, in Jornal Público

Com os concorrentes internacionais endividados, a Emparque comprou a Cintra e ambiciona fazer a Via Verde cruzar a fronteira


Na semana passada, com luz verde para a compra da Cintra Aparcamientos por 450 milhões de euros, a portuguesa Emparque tornou-se líder ibérica dos parques de estacionamento e quarto maior operador europeu do sector. O presidente Pedro Mendes Leal explica que a empresa, que teve de apostar lá fora devido aos entraves no mercado nacional, quer agora consolidar a sua posição na Península Ibérica.

Depois de se tornarem líderes ibéricos, o que se segue?

Fazer o trabalho de casa, que é conseguir criar e optimizar uma estrutura única. Em vez de ter uma empresa portuguesa e outra espanhola, queremos criar uma empresa ibérica que consolide todas as suas operações de forma inteligente e racional. Mas ainda estamos a estudar a melhor forma de organizar a gestão.

E ao nível dos parques de estacionamento espanhóis, já há investimentos previstos?

Nos últimos 15 dias, já fizemos pelo menos cinco propostas de concurso para vários municípios espanhóis. Mas, além da abrir ou conseguir a concessão de novas estruturas, queremos apostar na melhoria da qualidade dos parques de estacionamento subterrâneos no país, que são bastante inferiores aos parques portugueses. Queremos renová-los, reforçar a segurança, levar novos serviços (como a lavagem de carros ou música ambiente), porque temos a experiência de que a qualidade é reconhecida pelo utilizador.

O pagamento por Via Verde nos parques será um desses serviços a criar?

A Via Verde ainda não existe em Espanha, mas queremos transpor para lá esse sistema. Em Portugal, o pagamento por meio electrónico está a ser um enorme sucesso e já representa mais de 50 por cento das entradas nos nossos parques subterrâneos.

Depois da fusão com a Cintra, que crescimento esperam?

Esperamos ter uma facturação de 200 milhões de euros no próximo ano com a nova Empark, que será o futuro nome da Emparque, e um EBIDTA (lucros antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) de 70 milhões de euros, o que significa quintuplicar os resultados actuais. Dentro de quatro anos, o objectivo é atingir um EBITDA de 100 milhões de euros, só com base nos contratos existentes, não incluindo a possibilidade de novas operações e concessões.

Toda a Emparque passará a chamar-se Empark?

Nesta primeira fase, temos a obrigação de substituir o nome Cintra por outro no prazo de 45 dias úteis, para não se confundir com as actividades da Cintra Concesiones. Mas estamos agora a trabalhar com especialistas para rever a imagem da Empark, que será primeiro aplicada em Espanha e depois em Portugal.

A entrada em Espanha ditará um afastamento de Portugal?

Portugal não está esgotado em termos de mercado para estacionamento, mas continua a ter muitos entraves ao investimento neste sector. Lisboa, por exemplo, é muito deficiente a esse nível e muita da sua falta de vitalidade deve-se a esta falta de estacionamento. Hoje, é inimaginável ir viver ou abrir uma loja ou um escritório num sítio onde não haja onde estacionar. Barcelona, por exemplo, tem 500 mil lugares de estacionamento subterrâneos, Lisboa nem 40 mil. Não há uma clara determinação de quem gere as cidades de que o estacionamento é fundamental.

Foi essa falta de vontade política que levou a Emparque a sair para o estrangeiro?

Tivemos de sair de Portugal devido à falta de oportunidades de negócio no país. Quando tomámos essa decisão, há três anos, quisemos escolher só um mercado para investir, porque não tínhamos dimensão para ir para vários. Estudámos Espanha, fizemos uma oferta para a compra de um estacionamento em Madrid, mas a nossa oferta ficou 60 por cento abaixo do preço vencedor. Decidimos analisar outros países, como a Polónia, a Roménia e a Turquia e optámos por este último.

E agora voltaram a Espanha para comprar a Cintra...

Sim, porque os nossos concorrentes internacionais estavam agora demasiado alavancados com as compras de empresas que fizeram há alguns anos, e enfrentavam restrições no financiamento. A Q-Park, por exemplo, pagou 22 vezes o EBITDA pela Carpark, líder sueca, há quatro ou cinco anos. No ano passado, compraram também a francesa Epolia, por 17 vezes o EBITDA. Resistimos a essa tendência de ganhar quota de mercado a todo o preço e conseguimos agora comprar a Cintra, em condições excepcionais. Mesmo após a compra, somos talvez a empresa que, entre os quatro maiores operadores europeus, tem uma situação financeira mais sólida.

Vão continuar a apostar na expansão internacional?

Para já, queremos consolidar posição na Península Ibérica. No Reino Unido, ficámos apenas com uma operação da Cintra - o aeroporto de Stansted, com 28 mil lugares - pelo que ainda temos de conhecer melhor o mercado antes de pensar noutros investimentos. Vamos continuar a expansão na Turquia (Istambul), onde esperamos facturar cinco milhões de euros e chegar a dez mil lugares este ano.