por Marta F. Reis, in iInfomação
Estão a aumentar os problemas com ansiedade nos jovens portugueses. Os médicos procuram as razões
Em seis meses, Catarina, de 19 anos, deixou de conseguir fazer a pé os 15 minutos entre a casa e a faculdade. O metro ficou fora de questão, o autocarro tornou-se motivo de pânico e agora, diz, duvida que o táxi - que a safou no final do último semestre - lhe permita regressar normalmente às aulas. "Sabia que ia directa, confortável, agora já nem isso."
Os ataques de pânico chegaram à vida desta estudante de História acompanhados de taquicardia e dores de cabeça, do medo de uma doença mortal que não foi revelada por nenhum exame médico. "Sei que é psicológico mas acaba por ser limitativo. Vai-se agravando, deixamos de fazer as coisas com medo de que nos dê alguma coisa. Vou no metro sozinha e é aquela sensação de que vou morrer ali, com toda a gente a olhar e ao mesmo tempo ninguém conhecido."
Casos como o de Catarina, não havendo números que digam se estão a aumentar, começam a ser mais visíveis nos consultórios, confirmam psicólogos contactados pelo i. O momento de entrada na faculdade ou a transição para a vida profissional acabam por desencadear picos de ansiedade e pânico, que revelam quadros de depressão e insegurança que muitas vezes os pais só reconhecem quando são forçados a ir a uma urgência, explica Maria de Jesus Candeias, psicóloga clínica na Crescer, Centro de Psicologia Infantil e Juvenil. "Noto um aumento significativo dos casos e infelizmente ainda há uma grande desvalorização dos primeiros sinais de alerta do corpo."
Por detrás da ansiedade, que pode transformar-se em pânico, a psicóloga acredita que está o aumento da exigência dos papéis escolares e profissionais mas também o facto de os jovens crescerem mais sozinhos, com prejuízo para a autoconfiança e redes de segurança. Nuno Sousa, psicoterapeuta, acredita que o problema, embora seja sério, deve ser visto como uma oportunidade para uma sociedade em transformação, que pode a partir destes jovens integrar novos valores. "É uma geração ansiosa que não foi estimulada a pensar e a sentir, cresceu num período de ter e de consumo. Agora vive um momento em que o futuro é desconhecido, tanto para eles que são jovens, como para os cuidadores, para o Estado, para as instituições." Saber lidar com a mudança, aprendizagem normal nesta faixa etária, é por isso mais difícil. "Os modelos de vida que eram conhecidos, por exemplo para alguém com 18 anos, estão em risco e há dificuldade em reconhecer alternativas." A solução, defende, passa por saber usar a dificuldade. "Na consulta digo que catástrofe em grego significa mudança brusca, mas não tem de ser para pior."