in Lusa
O número de pessoas que procura ajuda para comer aumentou entre 20 a 30 por cento em Portugal desde 2008, altura em que a situação económica piorou, disse à Lusa o vice-presidente do Centro de Apoio aos Sem-Abrigo (CASA).
Apesar de os “tradicionais sem-abrigo, que dormem na rua”, não terem aumentado, nota-se “um aumento grande nas famílias e pessoas carenciadas”, avançou Nuno Jardim.
“A maior parte são pessoas que estão sozinhas, perderam os empregos, têm dificuldades financeiras e vão pedir ajuda para tomar uma refeição”, explicou, sublinhando que “o conceito de sem-abrigo, de acordo com o plano nacional, engloba essas situações”.
Admitindo ser muito difícil contabilizar os sem-abrigo, até porque “conseguir recolher informação é complicado, porque eles mudam muito de local”, Nuno Jardim refere que, pela observação possível, o número de pessoas que pedem refeições “aumentou à volta dos 20 a 30 por cento” desde 2008.
“Notamos esse aumento das dificuldades desde 2008”, adiantou, acrescentando que “este ano têm aparecido mais pessoas, mas é já resultado dos outros anos”.
A região mais afetada é, segundo este responsável, o Algarve porque, “só por si, já é uma região pobre”, sendo que o “distrito de Faro” foi o que registou um crescimento maior destas situações.
O principal motivo que as pessoas alegam para pedir refeições às organizações de solidariedade é o desemprego, mas nem sempre.
“Há pessoas que têm emprego e um teto onde viver, mas o dinheiro que ganham vai todo para a casa ou para o quarto e acabam por não ter dinheiro para mais nada”, referiu.
“Depois também há questões de estrutura familiar que se desfaz totalmente e algumas pessoas não conseguem aguentar e vão parar à rua”, afirmou Nuno Jardim.
Também o presidente da Cais, Henrique Pinto, admite não conhecer o número exato de sem-abrigo em Portugal, até porque “muitas vezes a contagem é feita a partir dos albergues e dos quartos pagos pela Segurança Social ou pela Santa Casa da Misericórdia, mas há um grande número de pessoas que vive em casas abandonadas, devolutas e pessoas que vivem de facto na rua”.
Os órgãos de comunicação social “falam em 3.000 em Lisboa e cerca de 2.000 no Porto mas não há dados atualizados e rigorosos”, ressalva Henrique Pinto.
O responsável lembra que no Porto, ao abrigo da estratégia nacional de apoio à população sem-abrigo, conseguiu-se retirar das ruas cerca de mil pessoas nos últimos dois anos.
Ainda assim, Henrique Pinto reconhece que tem notado um aumento de carenciados.
“A classe média é a que mais tem sofrido. Aqueles que já viviam na rua, agora têm uma sopa a menos, mas já eram pessoas numa situação de pobreza severa. Agora quem perdeu o trabalho, tem filhos, uma casa para pagar, não consegue viver”.
Os problemas familiares são também a razão apontada por Isabel Teixeira, técnica da Legião da instituição de solidariedade Boa Vontade, no Porto.
“Um dos motivos principais prende-se com problemas familiares, divórcios, morte de progenitores. [quando] Há uma rotura com a família”, explicou.
Depois não têm rendimentos fixos nem certos, há muitos que fazem biscates ou arrumam carros ou beneficiam do rendimento social de inserção ou de reformas.
Ainda sem números relativos a 2011, a Assistência Médica internacional (AMI) contabilizou em Portugal 12.383 pessoas em situação de pobreza no ano 2010, o que representa um aumento de 32 por cento face ao ano anterior.
Destas, 1.821 pessoas encontravam-se na situação de sem-abrigo, mais 13 por cento que em 2009.
A população sem-abrigo divide-se, de acordo com a Federação Europeia de Organizações Nacionais que Trabalham com Sem-Abrigo (FEANTSA), em quatro grandes grupos: sem-tecto (vivem na rua), sem casa (vivem em habitações temporárias), habitação precária (foram despejados) e habitação inadequada (estão em construções abarracadas).