Rui Sá, in Jornal de Notícias
A forma como (parte d)o país anda a discutir a evolução do desemprego encaixa-se na definição de silly season mas, infelizmente, não o é. De facto, o maior problema social do país parece, agora, estar reduzido à discussão das metodologias de previsão do INE. E o PS contribui para o espetáculo do acessório com a novela dos seus cartazes em que as caras dos "testemunhos diretos" não correspondem a esses "testemunhos" e, pelos vistos, não autorizaram a utilização da sua imagem.
É evidente que o Governo aposta na confusão das estatísticas, porque quanto maior for o "ruído" menos se discute o essencial. E o PS parece apostado na velha máxima de que o que importa é que falem de nós, nem que seja para dizerem mal - o que me parece ser um grandessíssimo tiro no pé (se é que Costa ainda tem pés, tantos os tiros que neles já deu!...).
Mas, e desculpem-me o lugar-comum, quanto mais não seja por respeito àqueles e àquelas que estão no desemprego a discussão tem de ser sobre o essencial.
E para isso, antes de tudo, importa saber os números reais de pessoas desempregadas em Portugal. Eugénio Rosa, um economista que se tem dedicado ao estudo exaustivo destes números, coloca o dedo na ferida quando considera que, à taxa oficial de desemprego (ou seja, àqueles que estão formalmente inscritos nos centros de emprego - e que passaram de 675 para 752,8 mil desde o início da intervenção da troica) é necessário somar mais duas parcelas. Uma diz respeito àqueles que, estando em idade de trabalhar, deixaram de fazer prova de procura de emprego. Porque deixaram de receber subsídio de desemprego e não querem sujeitar-se à regra desta "prova". Ou por saberem que, pela sua idade e/ou nível de habilitações, arranjar emprego não passa de uma miragem (esta parcela passou de 143,8 para 257,7 mil portugueses). A outra parcela é a dos que aceitaram trabalhos em "part-time" (fazendo uns "biscates") para fazerem frente à situação desesperada em que se encontram e que não têm, verdadeiramente, um emprego (e que passaram de 147,7 para 251,7 mil).
Ou seja, temos hoje mais de 1,2 milhões de portugueses desempregados ou em subemprego! E, sabendo-se, que são menos de 300 mil a receber o subsídio de desemprego, dá para ter uma ideia do que por aí vai!...
É evidente que o Governo aposta na confusão das estatísticas, porque quanto maior for o "ruído" menos se discute o essencial.