Texto de Samuel Silva, in Público on-line (P3)
Instituições de ensino superior estão a usar prémios em dinheiro para atrair alunos para cursos com pouca procura. Recompensar os resultados e reforçar relações com empresas são outros motivos para o crescimento do número de bolsas de mérito
Quando Eduardo Dias acabou a licenciatura em Física não tinha gasto nem um euro. A média acima dos 19 valores no final de cada um dos três anos do curso valeu-lhe a atribuição de uma das bolsas de excelência da Universidade do Minho, que pagam aos alunos distinguidos o valor da propina anual. “Nunca trabalhei a pensar no prémio, mas funciona como uma motivação extra”, reconhece o jovem de Braga. Como ele, há cada vez mais alunos do ensino superior a estudarem de graça.
Em Maio, Eduardo foi um dos 164 estudantes da Universidade do Minho a receber este tipo de prémio, lançado em 2012 apenas para os alunos do primeiro ano e alargado progressivamente: este ano, já chegou a todos os estudantes de licenciatura e vai ser estendido aos mestrados.
Agora que é mestrando de Física Fundamental, Eduardo Dias pode ser bolseiro outra vez. Em tempo de dificuldades financeiras para as famílias, os 1037 euros recebidos – o equivalente ao valor da propina anual de licenciatura – servem para que o jovem de 21 anos possa “aliviar um bocadinho” o esforço dos pais. “Tenho outro irmão na universidade e uma irmã mais nova. Um apoio destes é sempre uma boa ajuda”, conta o estudante.
Prémios de mérito como este têm-se tornado uma prática na generalidade das instituições de ensino públicas, com uma ou outra variação. No Politécnico do Porto, por exemplo, há uma bolsa especial para trabalhadores-estudantes com bons resultados e bolsas para novos alunos que entrem na instituição com média superior a 17 valores. Numa altura em que decorre o concurso nacional de acesso ao ensino superior, a existência deste tipo de apoios pode ser mais um factor a pesar nas escolhas dos alunos.
As próprias instituições têm feito uma aposta cada vez mais forte nas bolsas para bons alunos, reforçando a sua divulgação durante a fase de candidaturas ao ensino superior. Há uma tendência crescente para universidades e institutos politécnicos utilizarem estes prémios em dinheiro como forma de atrair estudantes, sobretudo para cursos com menor procura.
Há um ano, a Universidade do Minho anunciou que os 15 melhores estudantes que fossem colocados no curso de Engenharia Civil – um dos mais afectados pela crise de candidatos ao ensino superior dos últimos anos – receberiam uma bolsa equivalente ao valor das propinas durante a totalidade dos cinco anos de formação, um apoio financiado por empresas do sector. A partir do próximo ano, também a Sociedade Portuguesa de Química passa a atribuir bolsas no valor da propina aos cinco melhores alunos do 1º ano das licenciaturas em Química nas universidades de Aveiro, Coimbra, Minho, Porto, Lisboa e Nova.
Em Aveiro, são também privados que irão pagar as propinas do primeiro ano do curso aos seis estudantes com as melhores médias de ingresso do Mestrado Integrado de Engenharia Física. Uma iniciativa que “pretende ajudar a reduzir as necessidades de engenheiros físicos, numa área de formação que é actualmente a quarta com maior taxa de empregabilidade do ensino superior nacional”, anuncia a universidade.
Um exemplo paradigmático dos esforços das universidades para atraírem alunos para cursos com pouca procura é o que está a ser feito pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, nos cursos de Ciências do Ambiente e Engenharia Florestal. Os cinco melhores colocados no concurso nacional de acesso terão isenção de propinas. A única condição é que os estudantes sejam sócios ou familiares de sócios da Liga Portuguesa de Bombeiros, do Corpo Nacional de Escutas ou de uma das instituições do Consórcio de Associações Florestais e Ambientais, que são parceiras desta iniciativa.
“A floresta é um sector com um peso muito elevado em termos económicos para o país, particularmente por via das exportações, mas não temos tido alunos no curso”, justifica o vice-reitor para o Ensino, João Coutinho. Nos últimos anos, o número de candidatos a Engenharia Florestal a nível nacional nunca tem ultrapassado os 7. “Isto é uma maneira de tentar atrair” alguns alunos, assume o mesmo responsável, para quem, se não houve estratégias como esta, o país corre o risco de, “a curto prazo”, deixar de ter técnicos qualificados na área.
Além dos prémios de mérito e da captação de alunos para cursos com menor procura, o terceiro motivo que tem explicado o crescimento das bolsas para bons alunos é o reforço das parcerias entre ensino superior e empresas.