Nuno Noronha // Notícias // Lusa, in SapolifeStyle
Jovens com deficiência mental tornaram-se atores e, encenando uma história de amor entre um príncipe e uma princesa, arrancaram entusiásticos aplausos aos habitantes de um bairro social do Porto, num projeto da Associação Espaço T.
Os atores, atentos às indicações da encenadora, entraram em cena num palco improvisado, com roupa e alguns adereços feitos por si e, durante meia hora, perante um público de miúdos e graúdos, contaram a história de um príncipe “bonito e simpático” que, para ficar com a princesa, teve de enfrentar e matar um tubarão.
A Associação para Apoio à Integração Social e Comunitária Espaço T, da qual os jovens são alunos, está a promover a iniciativa “Palcos para a Inclusão”, realizando em todos os bairros sociais do Porto espetáculos teatrais, de dança, de música ou de pintura, feitos por pessoas idosas, com deficiências ou problemas de toxicodependência, com o objetivo de divulgar a cultura e potenciar atitudes inclusivas.
Este grupo de alunos, com Trissomia 21 e idades entre os 25 e 40 anos, ensaiou durante seis meses para, agora, levar a peça teatral “Sharknado”, com príncipes, princesas, reis, tubarões, tornados, sereias ou peixinhos, aos habitantes dos bairros.
“A história foi toda escrita por eles. Jogamos à jenga [jogo de habilidade física e mental] que consiste em tirar blocos de uma torre de madeira e, à medida que iam tirando, iam construindo a história e, quando a torre caiu, terminou a história”, disse hoje à Lusa a encenadora da peça de teatro, Joana Teixeira.
A também dinamizadora do grupo frisou que “qualquer pessoa” tem as suas limitações, por isso, o principal trunfo para trabalhar com estes alunos é percebe-los, cativa-los, entender a sua imaginação e, a partir do momento em que isso se consegue, é fácil criar produtos artísticos, afirmou.
Um dos atores, Carlos, de 34 anos, contou que a história se chama “Sharknado”, nome de um dos filmes mais comentados nas redes sociais em 2013, porque envolve um tornado e um tubarão.
“No final, o príncipe matou o tubarão porque era obrigação dele para ficar com a princesa e viveram felizes”, explicou.
No decorrer da peça teatral, a cena do beijinho entre o príncipe e a princesa ou a dança da valsa provocaram sorrisos entre o público e comentários como “aí que engraçados”.
O diretor do Espaço T, Jorge Oliveira, adiantou à Lusa que o projeto “Palcos para a Inclusão”, com duração de um ano e meio, só termina em abril de 2016 e vai chegar aos 40 bairros sociais do Porto.
Os espetáculos são feitos nas associações, juntas de freguesia ou espaços sociais dos bairros, realçou.
“O objetivo é humanizar os bairros e fazer com as pessoas que lá vivem percebam que há pessoas diferentes que os conseguem impressionar e mostrar histórias de vida engraçadas”, frisou.
Jorge Oliveira realçou que a Câmara do Porto pagou 30 mil euros pela iniciativa, mas a realização de um estudo social demonstrou que o retorno social por cada euro investido é de 4.2 euros.
“Queremos humanizar mais os bairros sob o ‘slogan’ os bairros têm casas e as casas têm gente, criando hábitos de inclusão”, frisou.
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Nuno Noronha