Luís Reis Ribeiro, in Dinheiro Vivo
Dirigentes da indústria, do comércio e dos serviços estão claramente mais pessimistas quanto à sua capacidade de criar emprego nos próximos três meses. Ainda por cima o Orçamento do Estado de 2016 foi adiado, o que complica a situação
A maioria dos empresários está bem mais pessimista quanto à sua capacidade de criar emprego nos próximos três meses. Indústria, comércio e serviços interromperam em outubro a tendência positiva iniciada em 2012-2013 mostra o Instituto Nacional de Estatística INE no inquérito à confiança de vários sectores, publicado esta semana.
A taxa de desemprego mensal ajustada da sazonalidade aliviou uma décima em setembro, para 12,2% da população ativa, mas o horizonte de curto prazo não é propriamente animador, tendo em conta a opinião de dirigentes empresariais ouvidos pelo INE.
Esta informação é tanto mais preocupante quando se sabe que, embora a intensidade do desemprego esteja a cair, a criação de emprego parece ter sido interrompida. Segundo o INE, foram destruídos 21 mil empregos nos últimos dois meses (agosto e setembro), interrompendo seis meses consecutivos de recuperação.
O inquérito à confiança empresarial, realizado junto de 4620 responsáveis, mostra várias coisas. Na indústria transformadora, onde foram inquiridos 1200 gestores e empresários, “as perspetivas de emprego [a criar nos próximos três meses] agravaram-se entre agosto e outubro, de forma mais acentuada no último mês, interrompendo o perfil crescente observado desde o início de 2013”.
No comércio, o inquérito a 1125 responsáveis permitiu concluir que “as perspetivas de emprego agravaram-se em outubro, após terem atingido em setembro o máximo desde julho de 2001, suspendendo o perfil positivo iniciado no final de 2012”.
Nos serviços, setor onde foram consultados quase 1500 empresários, as expectativas “agravaram-se ligeiramente no último mês, interrompendo o perfil positivo observado desde maio”.
Apenas os empresários da construção (foram ouvidos 835) mostraram algum desanuviamento. Segundo o INE, “as perspetivas de emprego recuperaram nos últimos três meses, após o agravamento registado entre abril e julho”. Promoção Imobiliária e Construção de Edifícios lideraram a melhoria na confiança. Estão menos céticos, embora este grupo de empresários continue a ser o mais pessimista do país.
O problema do atraso no OE
Um dos fatores que poderá estar a influenciar negativamente a opinião dos empresários será a ausência de uma proposta de Orçamento do Estado por causa das eleições. Normalmente, o OE é apresentado até 15 de outubro de cada ano.
O Orçamento é um documento estruturante para a economia nacional pois organiza incentivos, além de implicar uma injeção de 80 mil milhões de euros anuais (despesa total das administrações públicas) por via do pagamento de salários, pensões e outras prestações sociais e de compras de bens e serviços, investimentos vários e apoios a empresas e bancos.
A maioria desse dinheiro é financiada por impostos, claro, sendo complementado com dívida pública uma vez que o governo gasta mais do que recebe (tem défice).
A economia portuguesa está avaliada em 178 mil milhões de euros. A despesa total equivale, portanto, a 46% do Produto Interno Bruto.
Por que razão o atraso no OE é um problema?
Porque o OE define um plano de injeção de dinheiro na economia no valor de 80 mil milhões de euros.
Consumidores também pressentem dificuldades
Não são apenas os responsáveis das empresas que estão mais inquietos quanto ao futuro próximo. O mesmo INE diz que “o indicador de confiança dos consumidores diminuiu ligeiramente em outubro, após registar o valor mais elevado desde junho de 2001, interrompendo a tendência ascendente observada desde o início de 2013”.
Razão? Essa quebra na confiança dos consumidores “refletiu o contributo negativo das expectativas relativas à evolução do desemprego e da situação económica do país, mais significativo no primeiro caso”.