Rui Canossa, in "O Jornal de Amarante"
Onde para a solidariedade europeia? Por estes dias estava a falar de Portugal no contexto da União Europeia com os meus alunos, esses guerreiros, que vão em junho realizar o exame nacional de economia, sobre a solidariedade entre povos que constitui um dos baluartes da construção europeia. E pensava para comigo - onde para a solidariedade europeia? - dessa reflexão resulta o artigo que está a ler.
De facto, as opções políticas e orçamentais do governo português não agradam ao pensamento dominante nas grandes capitais europeias e nas instituições comunitárias. O desagrado é expresso publicamente, sendo Portugal o mau exemplo que os líderes europeus gostam de referir e que rapidamente se alastra a analistas, comentadores, investidores e, claro está, às já tão famosas agências de rating.
Cá dentro, as coisas estão neste impasse, se Bruxelas vai analisar o Orçamento de Estado, aguardam ansiosamente para que seja chumbado, assim a culpa era da Europa, como não o foi proclamam que o orçamento não muda nada em matéria de austeridade. Como esta mentira não passa viram-se para única agência de rating que não coloca a nossa dívida pública na classificação de "lixo", a canadiana DBRS. Se as taxas de juro sobem vamos deixar de vender dívida a taxas favoráveis e soam os sinais de alerta de que estamos a voltara 2011.
Lá fora os coros de avisos, críticas e até ameaças ecoam todos os dias. O ministro das finanças alemão afirmou há dias que "Portugal deve estar ciente de que pode perturbar os mercados financeiros se der impressão de que está a inverter o caminho que tem percorrido. O que será muito delicado e perigoso para Portugal". No dia seguinte voltou ao ataque: "Portugal tem de fazer tudo para responder à incerteza nos mercados financeiros." - Nós já sabemos isso sr.
Schauble, e o que se calhar ainda não ouviu é que já se ventila que vamos nacionalizar...
O que eu ainda não percebi é porque o sr. Ministro não se mostra preocupado com o maior e mais importante banco alemão que enfrenta uma brutal crise que é o Deutch Bank. Reflexo disso as ações perderam 50% do seu valor desde agosto ecos do prejuízo de 6.8 mil milhões de euros em 2015! Ainda estão preocupados com o Novo Banco que "só" perdeu 982 milhões! A juntar a tudo isso o Deutch Bank é acusado de fuga ao fisco alemão.
Enfim, a solidariedade europeia anda pelas ruas da amargura. O que existe é uma europa forte com os fracos e fraca com os fortes. Jean Monnet, Robert Shumann e Konrad Adenauer, os grandes obreiros da Construção Europeia estão seguramente às voltas nas tumbas.