30.10.20

Igualdade de Género: podemos esperar mais 60 anos?

Nelson Marques, in Expresso

Segundo o Índice de Igualdade de Género 2020, que é apresentado esta quinta-feira, Portugal é um dos países europeus que mais progride nesta matéria, mas continua abaixo da média comunitária, em 16º lugar

Esta é uma daquelas histórias onde, para uns, o copo estará meio cheio, e, para outros, estará meio vazio. Dito de outra forma: é certo que a matemática é uma ciência exata, mas os números podem ser lidos de muitas maneiras. Confuso? O melhor é desfazer esta aparente contradição. Comecemos pela visão mais otimista: diz-nos o Índice de Igualdade de Género 2020 que Portugal é um dos países da União Europeia (UE) que, desde 2017, mais avanços fez para combater as assimetrias entre homens e mulheres em diversos indicadores sociais (só Holanda, Espanha e Croácia fizeram melhor).

Boas notícias, certo?

Bom, o melhor é sermos contidos nos festejos. É que entre 2015 e 2017 Portugal era mesmo o país da UE que mais progressos tinha feito, tendo subido 3,9 pontos e cinco lugares no ranking. Agora, subiu 1,4 pontos, manteve-se no 16º lugar em 28 países (o Reino Unido, que deixou a UE em janeiro, mantém-se ainda no índice) e, com 61,3 pontos em 100 possíveis, está ainda 6,6 pontos abaixo da média comunitária (67,9) e a mais de 20 do recordista europeu, a Suécia (83,8). Ao ritmo atual, serão precisos pelo menos mais 60 anos para atingir a igualdade de género completa na UE.

O melhor mesmo é deixarmos os festejos para outra altura.

Criado pelo Instituto Europeu da Igualdade de Género (EIGE, na sigla em inglês), o Índice de Igualdade de Género é uma ferramenta que procura avaliar os progressos da igualdade de género em cada um dos estados-membros da UE, numa escala que vai de 1 (totalmente desigual) a 100 (totalmente igualitário). São avaliadas seis áreas: trabalho, rendimento, conhecimento, tempo, poder e saúde. Os melhores resultados de Portugal são na saúde (84,6 pontos), apesar de ficar apenas no 20º lugar nessa categoria, seguindo-se o domínio do trabalho (72,9 pontos, 15º lugar). As maiores desigualdades são encontradas nos domínios do uso do tempo (tarefas domésticas e de cuidado) e no acesso a posições de poder, ocupando os lugares 25 e 13 do ranking, respetivamente.

O relatório de 2020 é baseado maioritariamente em dados de 2018.