26.11.11

Barroso: ou a UE avança na governação económica ou torna-se irrelevante

Por Teresa Firmino, Pedro Crisóstomo, in Público on-line

O presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, defendeu hoje que os países com dívida elevada não podem descurar o rigor nas contas públicas, mas sublinhou que a Europa só conseguirá sobreviver se, para além disso, reforçar a governação económica e a solidariedade.

Dias depois de apresentar o seu plano para o reforço da governação da zona euro, Barroso voltou a apelar à solidariedade entre os Estados-membros e exigiu dos países mais fortes do euro a defesa da moeda única.

“Os mercados perguntam à Europa não só sobre o défice do pais A ou B, mas se será capaz de governar em conjunto”, observou na conferência Portugal, a Europa e o Mar, uma estratégia para o século XXI, organizada pelo semanário Expresso, no Estoril.

Para Barroso, “é uma condição essencial para termos uma moeda única o reforço da governação”, esforço sem o qual, considerou, “será impossível” manter o euro. “Há solidariedade necessária para partilhar uma moeda única?”, questionou, para mais tarde reforçar que nenhum país “terá capacidade de gerir o futuro se não o fizer cooperando”.

“Queremos nós, europeus, viver em conjunto? Queremos nós, europeus, partilhar a soberania? Se não completarmos a democracia nacional com a democracia europeia, deixamos a soberania real aos mercados", realçou, acrescentando que se a Europa não avançar na governação em conjunto e, pelo contrário, abdicar da solidariedade, “pode ficar condenada à sua irrelevância”.

Barroso defendeu, ao mesmo tempo, que “os países com dívida elevada, como o caso português, têm de observar planos rigorosos”, para ganharem condições para voltarem a financiar-se em condições sustentáveis nos mercados financeiros, fechados às economias sob intervenção da União Europeia (UE) e do Fundo Monetário Internacional.

Mas, num recado aos países com as economias mais robustas do euro, Alemanha e França – as duas maiores economias europeias –, Barroso disse que os países avaliados financeiramente no nível AAA (a nota máxima atribuída pelas principais agências de rating) “têm de mostrar que estão determinados a apoiar sem reservas a moeda única”.

Uma mensagem deixada sem se referir explicitamente a qualquer país do euro e dita um dia depois de um encontro entre os líderes de França, Alemanha e Itália, que serviu para a chanceler alemã, Angela Merkel, e o Presidente francês, Nicolas Sarkozy, acertarem publicamente posições a favor da revisão do Tratado de Lisboa. Referindo-se a este tratado, Barroso lembrou que a política económica de um país não é apenas nacional.

A par do projecto de reforço da governação da zona euro, Bruxelas apresentou na quarta-feira – sob forte oposição da Alemanha – três modelos para a criação de obrigações europeias, com o objectivo de estabilizar o acesso ao financiamento nos mercados entre os países da zona euro. Um passo que Barroso defendeu hoje que deve ser dado para combater a crise e ao mesmo tempo resolver a governação europeia