in Jornal de Notícias
O voluntariado em Portugal atinge valores de envolvimento "bastante reduzidos", na ordem dos 12%, face à média europeia de 24%, mas há um aumento significativo da participação em campanhas pontuais, aponta um estudo inédito.
A investigação "Voluntariado em Portugal", a que a agência Lusa teve acesso e que é apresentado publicamente, esta terça-feira, realça que, na última década, se assistiu na União Europeia (UE) a "um aumento quer do número de voluntários, quer do número de organizações promotoras do voluntariado".
"Estima-se que, na UE, estejam envolvidos no voluntariado entre 92 a 94 milhões de adultos, o que representa cerca de 23% a 24% da população", refere o documento.
Os "maiores níveis de envolvimento" são no norte da Europa, em países como a Holanda e a Suécia (cerca de 40%), o que "contrasta fortemente" com a realidade dos países do sul da Europa, como Portugal, Espanha e Itália, "onde os níveis de envolvimento são pouco superiores a 10%".
Em Portugal, a participação tem "valores bastante reduzidos", na ordem dos 12%, indica o estudo, que refere a "ausência de uma cultura de voluntariado" no país.
"A percentagem da população que faz voluntariado pelo menos uma vez por mês é de 2,9% no caso do voluntariado formal, de 6,1% no voluntariado informal (não integrado numa organização) e de apenas 2,2% relativamente à entreajuda comunitária (voluntariado de proximidade)", apontam.
Apesar destas fragilidades, acrescentam os investigadores, o país apresenta "alguns dinamismos interessantes" de mobilização, sobretudo em situações esporádicas.
"Observa-se um aumento significativo da participação de voluntários em campanhas pontuais", de que são exemplo as "recolhas de alimentos do Banco Alimentar" e a "Campanha Limpar Portugal".
Quanto às áreas de intervenção, o voluntariado em Portugal, como no sul da Europa, é virado para os serviços sociais (36%), sendo o valor respeitante à área cultural "bastante reduzido", o que "contraria a realidade europeia".
A investigação incluiu um estudo de caso sobre Évora, cujos resultados englobam "um conjunto de desafios ao voluntariado, que passam pela promoção, formação e acompanhamento dos voluntários".
É sugerida a definição de estratégias locais que tenham em atenção as necessidades de voluntários, beneficiários e organizações e que considerem também as motivações, que não são apenas colectivas e altruístas, já que 30% assenta em valores individuais.
O estudo constatou que 40% dos voluntários inquiridos nunca recebeu qualquer formação, mas 79,7% considera tratar-se de "um recurso essencial".
Um total de 86% dos inquiridos referiu igualmente como "importante e necessário" o acompanhamento e avaliação do voluntariado.