Por João d´Espiney, in Público on-line
“Sinto-me ateniense e grego, e não cidadão deste mundo, um mundo de manajeiros, de tecnocratas sem rosto, de ‘mãos invisíveis’ que ninguém controla”, afirmou hoje o reitor da Universidade de Lisboa (UL), António Sampaio da Nóvoa.
Falando na cerimónia de abertura do Ano Académico e de encerramento das comemorações do Centenário da UL, que “coincidiu com um ano negro para Portugal e para a Europa”, Sampaio da Nóvoa defendeu que “as instituições do ensino superior, com os seus 20 milhões de estudantes, têm de ser uma peça central na definição da Europa”.
“Agora que estamos perante a primeira grande ruptura do século XXI, quando a rapidez das decisões esmaga o tempo humano da compreensão, quando a nossa consciência da realidade parece sempre tardia, e a destempo, como se nada pudéssemos fazer, e tudo estivesse decidido por um alguém que é ninguém, agora, precisamos, mais do que nunca, de reforçar a democracia”, afirmou o reitor da Clássica, salientando que “não basta insistir no triângulo virtuoso da educação, da ciência e da inovação”.
Depois de citar o Presidente da República, que anteontem considerou que “a obtenção de resultados de elevado nível exige, de facto, recursos adequados e uma necessária autonomia de decisão”, Sampaio da Nóvoa reforçou a necessidade das instituições terem ‘recursos adequados’ porque “a erosão das instituições e a incapacidade de se rejuvenescerem começa a atingir níveis insuportáveis”.
“Precisamos de ‘autonomia de decisão’ porque a autonomia faz parte da essência da universidade. Mas sabemos que ela não pode beneficiar uma universidade corporativa, virada para os interesses de dentro, e deve estar, sempre, ao serviço de uma universidade que é cidade, que é sociedade”, disse o reitor da UL, considerando que as universidades devem ter “uma ambição que vá muito para além das reformas ou reformazinhas, que se limitam a modificar umas tantas coisas insignificantes ou quase insignificantes”.
Sampaio da Nóvoa abordou ainda a fusão da UL com a Técnica, um processo que visa criar “uma universidade de grande nível e prestígio internacional” e que pretende também dar “um sinal de mudança ao país”.