16.3.15

A pobreza em Portugal

Texto Opinião | Arnaldo da Fonte, Advogado, in Fátima Missionária

«Tornámo-nos, de há muito, um país que partiu. Foi-se o império, saíram os emigrantes, tudo parecendo reduzir-se a histórias do passado, geralmente cobertas de glórias nem sempre coincidentes com a verdade histórica»

Quando se diz que Portugal é um país pobre, pensamos, quase por instinto, na falta de recursos proporcionados pela terra que pisamos. Não temos petróleo, o ouro é escasso, metais preciosos são inexistentes ou raros, não temos barcos de pesca capazes de formar uma armada pesqueira e a agricultura não gera meios de subsistência suficientes para abastecer com segurança o país.

A população é pouca e as elites do saber e do conhecimento científico também escasseiam. Tornámo-nos, de há muito, um país que partiu. Foi-se o império, saíram os emigrantes, tudo parecendo reduzir-se a histórias do passado, geralmente cobertas de glórias nem sempre coincidentes com a verdade histórica. Acreditamos que o tempo tudo justifica, para o bem e para o mal, e assim nos quedamos. A sociedade parece esfarelar-se sob o peso de uma descrença contagiosa e incurável.

Os chamados indicadores económicos dizem, friamente, com números, que somos pobres. Há milhares de desempregados, pessoas de todas as idades com fome, gente em idade ativa sem trabalho, velhos sem apoios, crianças abandonadas à sorte e às incapacidades das famílias e à quase falência técnica do Estado.

Porquê? Cada um, na intimidade, encontrará, com maior ou menor lucidez, respostas. E soluções? É notório o falhanço das políticas, dos políticos, grassando a corrupção, o desleixo, parecendo sucumbir o país a uma apatia coletiva, levando, tudo e todos, para o abismo. Culpa-se a Europa, entidade que, não sendo abstrata, carece de identidade própria – abundam, crescentemente, os nacionalismos exacerbados e as rivalidades de índole guerreira. E a guerra espreita.

Dizem, alegados entendidos, que gastámos mais do que podíamos. Quem gastou? Em quê? Quem tinha obrigação de prestar contas não as prestou. Onde está o dinheiro que a dita União Europeia enviou? Gente com poder e sem freio, desprovida de valores, desfigurou o povo humilde, transformando-o numa massa acrítica a quem apenas é conferido o direito (inútil) de votar. Resume-se a isto a nossa democracia?

As soluções estão nas pessoas. São as responsáveis pelas vitórias e pelas derrotas. Exercer, consciente e responsavelmente, a cidadania, não se resumirá só a acusar. Enriquecer a consciência e o sentimento de solidariedade poderá ser um passo determinante para encontrar caminhos de progresso social. Não é virtude ser pobre. O melhor que se pode dizer de um homem é que é sério e honrado, pelas suas consequências sociais.