13.3.15

"Maria" ficou dez dias sem dormir. Um em cada quatro portugueses dorme mal

por Marta Grosso e Anabela Góis, in RR

Há agora uma Linha do Sono para os ajudar. Dormir mal tem consequências – da vida pessoal à profissional –, mas há pequenos truques que fazem toda a diferença.

Dizem os estudos que 25% dos portugueses passam a noite às voltas na cama, sem pregar olho. A pensar neles, foi inaugurado esta sexta-feira, Dia Mundial do Sono, a primeira Linha do Sono.

A iniciativa é da Oficina de Psicologia e surge para ajudar quem sofre de insónia crónica, um problema mais frequente em mulheres e idosos. Quem tem dificuldades em dormir pode ligar para o 707 100 015, disponível de segunda a sexta-feira, das 11h30 às 16h30. Tem o custo de uma chamada local.

O sono é um equilibrador do humor e das emoções, recupera o corpo e a memória, estimula a criatividade e aumenta e consolida a capacidade de aprendizagem.

Dormir mal influencia a saúde, a vida pessoal e o desempenho profissional. Mas há pequenos truques e comportamentos que fazem toda a diferença

"Criar zonas de desaceleração à noite, meia hora antes de ir dormir, reduzir luzes, som, e desligar equipamento electrónico. É fundamental", refere à Renascença a psicóloga Filipa Jardim da Silva, que faz parte da equipa responsável pela Linha do Sono.

"Cheguei ao ponto de ficar dez dias sem dormir"
Os especialistas dizem que o nosso bem-estar físico e psicológico está, sobretudo, dependente de um sono reparador e de qualidade, de cerca de oito horas.

Maria (nome fictício) foi sempre uma pessoa activa, mas as incertezas ao nível profissional e a vontade de construir um futuro melhor levaram-na a uma situação limite. Depois de quatro meses a trabalhar e estudar sem parar, o corpo deu de si.

"Já não conseguia pensar, não conseguia desenvolver trabalho e tinha dores de cabeça, falta de memória, além da sensação de cansaço extremo", descreve à Renascença. "Não era só o cansaço psicológico: eu só conseguia ficar sentada, porque não tinha forças para me mexer."

Maria é uma licenciada à procura de uma oportunidade profissional. Vai aceitando empregos precários e decidiu frequentar um mestrado para melhorar o seu currículo.

Durante meses, os dias eram passados a trabalhar, a ir à faculdade e a fazer os trabalhos do curso, que muitas vezes se metiam pela madrugada dentro.

"De repente, comecei a não dormir, mas na noite seguinte já dormia. Passada uma semana, tinha mais trabalho e precisava de fazer um esforço acrescido – não dormia duas noites seguidas, mas depois dormia", diz.

Esta instabilidade levou-a a um extremo. "Cheguei ao ponto de ficar dez noites seguidas sem conseguir dormir. Comecei a desesperar", conta.

Agora, é seguida por uma especialista do sono e, além da medicação forte que tem de tomar, existem várias regras para cumprir: "Horários de sono, de alimentação, fazer um esforço para comer mesmo quando não apetece, fazer caminhadas sem esforço e ter paciência, porque uma pessoa quer logo ficar bem e continuar a fazer as coisas que sempre fez, mas isso não é assim. Demora tempo", avisa.

Maria está agora de baixa. No campo profissional, não sabe se o seu contrato de trabalho será renovado. Ao nível académico, conta com o apoio de colegas para não perder o fio à meada. Entretanto, aguarda, com paciência, que as forças lhe permitam voltar ao activo.