Paulo Tavares, in TSF
A poucos dias de assumir funções em Bruxelas, como conselheiro principal do presidente da Comissão Europeia, Silva Peneda faz uma análise detalhada das propostas do documento «Uma década para Portugal», e considera que é evidente a crença do PS numa vaga de confiança que faça aumentar o investimento, mas alerta que é preciso ter cuidado com o "grau de otimismo".
Quanto a propostas concretas, Silva Peneda afirma que está "muito de acordo" com algumas propostas do PS na área social, como o complemento de salário, afirmando que Portugal "tem um problema sério de pobreza", e que "ver alguém que trabalha ficar abaixo do limiar de pobreza não é digno, e é algo de repugnante numa sociedade como a nossa".
Em relação às propostas do PS para a Segurança Social, Silva Peneda relembra que há muito defende uma diversificação das fontes de financiamento do sistema, e confessa que vê com bons olhos a procura de outros caminhos para alimentar a Segurança Social, sobretudo porque vivemos tempos em que empresas de mão-de-obra intensiva convivem com empresas de base tecnológica, com alta rendibilidade e poucos trabalhadores a contribuir para a Segurança Social.
Políticos não têm projeto de médio prazo para Portugal
Recusando a ideia de que está a "virar as costas à política nacional" ao embarcar em novas funções junto da Comissão Europeia, Silva Peneda lança algumas críticas à política e aos políticos portugueses. O antigo presidente do CES, cuja sucessão ainda não está consensualizada entre PSD e PS, lamenta que a política nacional esteja presa numa lógica de tática de curto prazo, "do dia-a-dia, da coisa menor".
Silva Peneda defende que o país deve ser pensado de forma estratégica, que só esse tipo de pensamento pode gerar compromisso e consenso entre os partidos, e que os políticos estão "num jogo de 90 minutos, de um campeonato com muitas jornadas, e só se preocupam com um canto que se marcou a meio do jogo".
Outro lamento do futuro conselheiro principal de Jean-Claude Junker passa pela falta de uma posição clara, dos principais partidos, em relação aos temas centrais da política europeia. Silva Peneda afirma que "não é possível manter por muito tempo uma moeda única estável, sem um orçamento Europeu que permita políticas anti-cíclicas, e com 18 países cada um a tratar da sua dívida pública de uma forma autónoma», mas lamenta que os principais partidos políticos «não se pronunciem sobre isto», dizendo que «gostaria que Portugal tivesse uma posição sobre estes temas".
Grécia é demasiado estratégica para cair
Em relação à crise grega, Silva Peneda lembra que "o PIB da Grécia é igual ao de Madrid ou de Dusseldorf", e que o problema não é financeiro, mas antes político e geoestratégico.
"Não estou a ver os Estados Unidos a aceitar passivamente que a Grécia, que é membro da Nato, caia nos braços da Rússia", diz Silva Peneda, acrescentando que essa questão é ignorada no debate sobre a crise grega. Silva Peneda acredita que «outras instâncias vão intervir, e ter um papel decisivo ao longo dos próximos meses".