Eduarda Frommhold, in Dinheiro Vivo
Portugal foi dos países da OCDE onde os encargos sobre os rendimentos do trabalho mais subiram nos últimos 14 anos.
Um estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), parcialmente divulgado hoje, revela que o conjunto da carga fiscal sobre os salários médios e das contribuições para a Segurança Social, pagas quer pelos trabalhadores querpelos empregadores portugueses, subiram 3,9 pontos percentuais entre 2000 e 2014, passando de 37,3%, para 41,2%, considerando-se o exemplo de trabalhadores solteiros e sem filhos.
Enquanto isso verificou-se na média dos 34 países da OCDE uma descida de 0,7 pontos percentuais no mesmo caso, com o total dos encargos sobre os rendimentos do trabalho em termos líquidos, ou seja, reduzidos de eventuais apoios públicos, a baixarem de 36,7% para 36%, nos mesmos 14 anos.
Mesmo assim Portugal ficou ainda atrás de países como a Bélgica, que tem a maior tributação sobre os rendimentos do trabalho do conjunto dos países analisados. No exemplo acima, a taxa resultante da aplicação de todos os critérios ascende na Bélgica a 55,6%, mais 14,4 pontos percentuais do que em Portugal. Seguem-se a Áustria com 49,4%, a Alemanha com 49,3%, a Hungria com 49% e a França com 48,4%, face aos 41,2% registados em 2014 por Portugal.
Entre os países da OCDE com os encargos sobre os rendimentos do trabalho mais baixos, o Chile bate todos os recordes, com uma taxa de apenas 7% no exemplo citado.O segundo país com a tributação mais baixa, a Nova Zelândia, surge a grande distância do Chile, com uma taxa de 17,2%, seguido pelo México (19,5%), Israel (20,5%) e Coreia (21,5%).
Desta forma, Portugal surge em 11.º lugar na tributação e despesas sociais sobre os salários mais altos no conjunto dos países da OCDE.
Os impostos sobre o rendimento e as contribuições dos trabalhadores para a Segurança Social aplicados em Portugal são representativos de 78% do rendimento bruto total, contra 77% na OCDE, refere ainda o relatório desta organização.
O Taxing Wages 2015 apresenta também entre as suas simulações o caso típico de um casal com dois filhos, em que apenas um dos cônjuges trabalha, auferindo um salário médio. Neste exemplo, a carga líquida total sobre o rendimento do trabalho em Portugal aumentou 3,5 pontos percentuais entre 2000 e 2014, subindo de 26,3% para 29,8% nesse período, o que representou o sexto maior agravamento no total dos países analisados. A média da OCDE foi em 2014 de 26,9%, menos 2,9 pontos percentuais do que em Portugal.
Na mesma simulação, o país com a taxa sobre os salários mais alta em 2014 foi a Grécia, atingindo 43,4%, mais 13,6 pontos percentuais do que Portugal e 16,5 pontos acima da média da OCDE.
Em segundo lugar surge a Bélgica (40,6%), quase ex aequo com a França (40,5%). As quarta e quinta tributações mais elevadas pertencem, no exemplo de um casal com dois filhos e um salário médio, a Itália e Finlândia, com respetivamente 39% e 38,9%, comparativamente aos 29,8% de Portugal.
A Nova Zelândia foi, por sua vez, o país da OCDE onde a tributação neste exemplo ficou mais baixa no ano passado, apenas 3,8%, seguindo-se o Chile (7%), a Suíça (9,8%), a Irlanda (9,9%) e o Luxemburgo, onde a taxa dispara para 15,1%.
O relatório salienta que o peso da tributação nos salários, ou seja, dos impostos e cotizações sociais que as empresas pagam mas que os trabalhadores não recebem, representou, em média, 36% dos custos laborais nos países da OCDE em 2014, mais 0,1 pontos percentuais do que em 2013, ainda que com grandes diferenças no seio da organização.
O estudo Taxing Wages é realizado anualmente, mas no deste ano a OCDE publica, pela primeira vez, juntamente com os custos salariais dos 34 países membros atrás referidos, também os dados sobre os impostos e cotizações sociais nos salários de um grupo de grandes países emergentes.
Uma das conclusões é que o custo salarial médio anual por trabalhador na China foi de 18 400 dólares (17 388,20 euros), 2,5 vezesinferior aos cerca de 43 948,60 euros médios praticados nos países da OCDE. A diferença em 2013, o último ano para o qual existemnúmeros comparáveis, era ligeiramente inferior em relação ao Brasil, onde se identificou um custo salarial médio anual por trabalhador de 19 230 dólares (cerca de18 172,5 euros), e ainda em relação à África do Sul, com 35 311 dólares (33 369,20 euros).
Mas foi muito superior face a outros países emergentes, como a Índia (4768 dólares, o equivalente a 4505,81 euros) e a Indonésia (6185 dólares, ou 5844,89 euros).