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Um em cada quatro alunos do 11º e 12º ano de duas escolas secundárias da região Centro alega ter sido vítima de violência no namoro, revela um estudo hoje divulgado e que envolveu cerca de 700 jovens.
O estudo, realizado no âmbito de uma tese de doutoramento, concluiu que "a frequência dos comportamentos violentos nas relações de namoro é elevada, assim como a desculpabilização dos fatores que a motivam", afirma a autora, Maria Clara Ventura, investigadora da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra.
De acordo com os resultados do trabalho, 23% de uma amostra constituída por 688 estudantes de duas escolas da região Centro, com uma média de idades de 17 anos, "percecionaram terem sido vítimas de violência nas relações de namoro", sustenta a autora.
Outros resultados do estudo apontam para o facto de as raparigas serem "tão violentas como os rapazes", não existindo uma relação entre a ocorrência de violência e o género dos inquiridos.
"Nesta amostra, as raparigas apresentaram comportamentos violentos nas suas relações de namoro com a mesma frequência que os rapazes, o que coloca a questão de saber se as raparigas ficaram mais violentas, ou se esta violência surge apenas como resposta à violência masculina", interroga-se Maria Clara Ventura.
Adianta que embora 68,9% dos inquiridos discordem das "crenças legitimadoras da violência", já 11,8% de estudantes "disseram aceitar algumas atitudes que justificam os atos agressivos".
"Os valores mais elevados, relacionados com justificação da violência pelas causas externas como o álcool, as drogas, o desemprego e a preservação da privacidade familiar, indicam que, na opinião dos participantes, se explicam e se justificam, em alguns contextos, comportamentos violentos nas relações de intimidade", frisa a investigadora da Escola Superior de Enfermagem.
Uma perspetiva, argumenta, que "pode sugerir, não só alguma desculpabilização do agressor, mas também a indicação de alguma culpa por parte da vítima, aspeto pouco promissor na construção de relações de intimidade que devem ser baseadas na igualdade e no respeito mútuo".
Embora admitindo que os resultados do estudo "não podem ser generalizados ao todo nacional", Maria Clara Ventura diz que "comprovam que a frequência dos comportamentos violentos nas relações de namoro é elevada".
Por outro lado, sublinha a autora, "minimizar a pequena violência e concordar com algumas atitudes abusivas dificulta a consciencialização da gravidade deste tipo de comportamentos".
Ainda no âmbito do doutoramento da investigadora, foi criado um programa de intervenção, denominado "Não à violência. (Re)aprender competências", que abrangeu um grupo experimental de 310 estudantes e utilizou estratégias para "produzir mudanças nos conhecimentos, atitudes e crenças dos jovens e promoção da autoestima", entre outros objetivos, "de forma a capacitá-los para iniciarem, desenvolverem e interromperem as suas relações, mobilizando-os pelo fim da violência no namoro e promoção de estilos de vida saudáveis".
A esse propósito, Maria Clara Ventura classifica como "fundamental" o trabalho desenvolvido nas escolas para desconstruir crenças de legitimação de violência relacionadas com as relações amorosas "em que normalização e desculpabilização de algumas condutas são apontadas de forma relevante".