8.10.15

Educação. Maioria dos alunos chumba no terceiro ciclo

Melissa Lopes, in ionline

São poucos os que chegam ao secundário sem ter reprovado pelo menos uma vez.

Os dados divulgados ontem pelo portal Infoescolas mostram que houve um elevado número de alunos que reprovou no terceiro ciclo ou, pelo menos, num dos exames nacionais do último ano lectivo.

Dos 94 130 alunos que realizaram os exames do 9.o ano, apenas 39 610 conseguiram chegar ao secundário sem ficarem retidos no 7.o ou no 8.o ano e com notas positivas nas provas finais de Português e de Matemática.

E é precisamente a Educação que a Fundação Francisco Manuel dos Santos está a debater ao longo do mês, um pouco por todo o país. No mesmo dia em que estes dados foram divulgados, e inaugurando o Mês da Educação, a Fundação apresentou um estudo que defende a necessidade de mais avaliações, tanto de alunos como de professores e directores. Os investigadores acreditam que a chave do sucesso escolar está na exigência e nas avaliações regulares. Essa avaliação deveria ser feita por um sistema independente e apolítico, denominado como sistema de garantia de desempenho educativo.

Margaret Raymond, investigadora da Universidade de Stanford e uma das responsáveis do estudo, propõe um modelo de reformas baseadas no princípio de que as políticas na área da educação devem privilegiar métodos quantitativos, de medição de dados estatísticos, para determinar e avaliar a qualidade do trabalho desenvolvido pelas escolas. Ou seja, mais exames, mais avaliações e mais dados estatíticos para saber onde e como actuar.

“Saber como os alunos estão a progredir relativamente aos padrões dos níveis primário e secundário pode ajudar os educadores e o ministério a canalizar os apoios educativos para onde são mais necessários. Saber como está o desempenho dos professores e administradores pode ajudar a identificar os professores e as escolas com melhor desempenho, que poderão então servir de exemplo ou mentores para os outros. Estas informações também ajudarão os educadores a tomar as medidas necessárias para melhorar as suas capacidades profissionais”, defende o estudo norte-americano.

Mais exames intercalares O estudo sugere a introdução de mais testes ou exames intercalares por ciclo de ensino, para se poder aferir de forma mais fiável os progressos nos resultados escolares. “A expansão do programa de testes de modo a abranger dois anos em cada ciclo de ensino daria aos professores, administradores, pais e responsáveis políticos uma visão mais clara acerca da eficácia das escolas. As avaliações precisam de rigor, profundidade e coerência”, lê-se no documento, que critica ainda a criação anual “a partir do zero” de testes e exames, por a considerar uma “abordagem extremamente dispendiosa”. Manter uma base de ano para ano de 80% dos itens das provas seria uma solução com “um custo por aluno muito mais económico”.

O trabalho sublinha ainda que “a necessidade de reduzir o corpo docente” em Portugal foi “ignorada de forma criativa”, com colocações em outras escolas, outras instituições ligadas à educação e aos jovens, ou em mobilidade, sendo o despedimento a solução de “último recurso”. O estudo considera que utilizar 80% da verba disponível para pagar salários a professores (contra 63% na média da OCDE) tem “um impacto dramático sobre os esforços para melhorar os resultados educativos dos alunos em Portugal”.

O envelhecimento dos docentes é outra das preocupações dos investigadores, que realçam o facto de poder haver falta de professores daqui a 15 anos. No entanto, esse facto é visto pelos especialistas como uma oportunidade para "melhorar o estatuto profissional" dos docentes.