3.3.16

"Se estivéssemos na pele deles também queríamos ser acolhidos"

Ana Bela Ferreira, in "Diário de Notícias"

Projeto Mais do Que Números, apresentado ontem, vai ser distribuído nas escolas para facilitar a integração dos refugiados e dos migrantes nas comunidades de acolhimento

A chegada de refugiados a Portugal ainda não é muito visível, mas espera-se que nos próximos dois anos cheguem a dez mil. Para que estes números sejam vistos como pessoas reais, a campanha de sensibilização está a começar. As escolas são o primeiro ponto de encontro entre os portugueses e os refugiados e por isso o governo - através da Secretaria de Estado da Igualdade, do gabinete do ministro adjunto e do Ministério da Educação - está a promover o projeto Mais do Que Números (Beyond not Just Numbers), da autoria da Organização Internacional para as Migrações Lisboa. Apresentado ontem na Escola Secundária de Camões, ficou a certeza de que entre os jovens que assistiram à sessão os refugiados podem contar com a sua solidariedade.

"Não podemos ficar indiferentes e passar ao lado desta realidade", aponta Matilde Almeida. A jovem de 16 anos garante que se vivesse perto de uma família de refugiados ou tivesse um colega na turma não hesitaria "em ajudá-los". A mesma opinião têm as amigas Francisca, Margarida e Maria. "Se estivéssemos na pele deles também queríamos ser acolhidos", defendem.

A questão da crise dos refugiados na Europa tem sido analisada "nas aulas de História e Filosofia". "Debatemos as questões que levam ao movimento de refugiados, mas também a atitude dos países europeus no acolhimento", explica Francisca Mota.

Seguir o exemplo do colibri

Ainda assim, depois de ouvirem falar o ministro adjunto Eduardo Cabrita, o coordenador do Mais do Que Números, Hugo Augusto, o alto-comissário para as Migrações, a presidente do Conselho Português para os Refugiados, o diretor-geral da Educação e o coordenador da Plataforma de Apoio aos Refugiados sobre os desafios europeus na gestão da crise dos refugiados, os jovens questionam-se sobre o que é que o tema tem que ver com eles.

Como podem meros alunos do secundário resolver um problema que os ultrapassa? É essa inquietação que é formulada por uma aluna: "Porquê falar de refugiados connosco?" Quer saber porque está ser lançado este projeto nas escolas quando o tema parece estar apenas ao alcance das entidades oficiais.

A resposta chega pela voz do alto-comissário para as Migrações, Pedro Calado, recorrendo a uma metáfora em que o colibri tenta apagar um fogo gigante na floresta e diz aos outros animais que apenas assistiam: "Estou a fazer a minha parte." O responsável desafia os jovens a fazerem a sua parte: "Somos apenas um colibri no meio da crise dos refugiados, mas podemos fazer a nossa parte, influenciando a nossa comunidade, a nossa família a acolher os refugiados."

Educação para a cidadania

Uma ideia sublinhada pelo ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues: "Só com o vosso trabalho de colibri podemos eliminar os elefantes na sala [os mitos e medos de acolher os refugiados]." Mais do Que Números é um conjunto de manuais para lançar o debate nas escolas no âmbito da educação para a cidadania.

A Europa recebeu só no ano passado 1,2 milhões de refugiados, mas como lembrou ontem o ministro adjunto, Eduardo Cabrita, "eles não são apenas números, embora os números sejam impressionantes e representem a maior crise de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial".