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O presidente da Cáritas Portuguesa, Eugénio Fonseca, defende que “não é por falta de meios” que a pobreza existe, mas porque estes estão a “ser mal” e “dolosamente distribuídos”, apelando para uma maior responsabilidade de todos.
“É pena que a justiça não seja mais eficaz nestas situações como muitas vezes é forte com os fracos e tem-se revelado muito fraca com os fortes”, disse Eugénio Fonseca em entrevista à agência Lusa a propósito da Semana Nacional da Cáritas que ontem se iniciou.
Isto “quando nós sabemos que milhões e milhões de euros desaparecem deste país para os chamados -- que o nome até é uma ofensa - paraísos fiscais”, mas “sim são paraísos para aqueles que escondem esse dinheiro em proveito próprio, sublinhou.
Na entrevista concedida antes do jornal Público noticiar que a Cáritas Diocesana de Lisboa tem, pelo menos há 10 anos, mais de dois milhões de euros em depósitos bancários, Eugénio Fonseca disse que a Semana Nacional da Cáritas visa “chamar a atenção para estes problemas” e para dizer que “outro mundo é possível”.
“Nós sabemos o estado em que se encontra o mundo, os desafios que temos pela frente com alterações de ordem política e de ordem económica e financeira e, portanto, é urgente mudarmos este estado de coisas”, advertiu.
Mas para isso acontecer -- defendeu -- “os governantes têm que ter um maior sentido de serviço para o bem comum e não apenas interesses pessoais, de poder, interesses ideológicos, que muitas vezes visam apenas a defesa do corporativismo”.
Também têm de ter um “maior sentido ético no exercício da sua missão, que é uma missão e não nenhuma carreira pessoal ou profissional”, sustentou.
Eugénio Fonseca ressalvou que não são apenas os políticos que devem ter este sentido de missão, mas todos os que têm “responsabilidades mais estruturantes para a sociedade”, a nível económico, social e educativo.
Para o presidente da organização católica, o combate à pobreza é uma responsabilidade de todos e não apenas do Governo.
“Se estamos à espera que o Governo faça tudo nunca mais a gente resolverá este problema, sendo certo que todos os governos têm que ter um sentido maior da distribuição da riqueza que é produzida”, vincou.
Sobre a forma como os portugueses podem ajudar para combater este flagelo que atinge quase dois milhões de pessoas em Portugal, Eugénio Fonseca disse que bastaria cada um contribuir com um euro.
“Nós somos dez milhões de habitantes (...) dez milhões de euros dariam para libertar da pobreza muitos dos nossos concidadãos”, elucidou.
Por outro lado, se fossem também proporcionadas oportunidades às famílias elas seriam “mais consistentes”.
Contudo, lamentou, em Portugal nem sequer existe uma secretaria de estado para a família ou uma direção-geral que trate só dos assuntos da família.
“Isto revela muito dos interesses que os políticos têm pela família enquanto célula fundamental da construção de qualquer sociedade”, disse, sublinhando que qualquer política e modelo económico que se adote vai influenciar em “primeiro lugar as famílias”.
“Família como construtora da paz” é o tema da Semana Nacional da Cáritas, durante a qual decorrerá o peditório público, entre quinta-feira e domingo.