3.10.17

Quem está hoje no mercado de trabalho estará em maior risco na reforma

Clara Viana, in Público on-line

Cerca de 40% das pessoas em idade activa consideram que quando chegarem à idade de reforma não conseguirão desempenhar as tarefas que actualmente têm a cargo.
21 de Setembro de 2017, 17:22

Quando chegar à reforma, a população que está actualmente em idade de trabalho vai enfrentar uma situação de “maior desigualdade” face à geração precedente, alertou, nesta quinta-feira, o director do Emprego, Trabalho e Assuntos Sociais da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), Stefano Scarpetta.

“O mercado de trabalho está a mudar, as carreiras são mais intermitentes e por isso não permitem níveis de contribuição que seriam desejáveis”, justificou Stefano Scarpetta, durante a Conferência Ministerial sobre o Envelhecimento, que está a decorrer em Lisboa, e que é promovida pela Comissão Económica das Nações Unidas para a Europa (UNECE). Participam os ministros responsáveis pela área do envelhecimento dos 49 estados, além de outras entidades relevantes, como as Nações Unidas, a Comissão Europeia e a Organização Internacional do Trabalho.

“Temos de tornar mais atractivo" que reformados possam dar formação

No painel dedicado à presença das pessoas mais idosas no mercado de trabalho, Stefano Scarpetta referiu que a partir dos 60 anos o acesso ao mercado de trabalho “é muito difícil”, nomeadamente entre as pessoas que têm “competências intermédias”, sendo que o acesso à formação “é ainda muito reduzido entre os idosos”.

Uma constatação: “A aprendizagem ao longo da vida ainda está muito longe de se tornar uma realidade." Uma situação que terá de se inverter com o objectivo de fornecer “competências digitais mínimas às pessoas mais idosas”, disse Scarpetta, que apontou este objectivo como um “desafio”.

Será a forma de diminuir as diferenças, no domínio das novas tecnologias, entre os mais velhos e os mais novos. Uma diferença que é maior do que aquela que separa os países neste domínio, frisou.
Na mesma sessão Montserrat Roca, secretária da Confederação Europeia de Sindicatos, lembrou estatísticas recentes europeias dando conta que “40% das pessoas em idade activa consideram que quando chegarem à idade de reforma não conseguirão desempenhar as tarefas que actualmente têm a cargo”.

Já a boa notícia veio da Noruega: em 10 anos, entre 2005 e 2015, registou-se um aumento de 60% no emprego de pessoas entre os 60 e os 64 anos, revelou Bjorn Halvorsen, conselheiro especial do Ministério do Trabalho e dos Assuntos Sociais. Apresentando-se a si próprio como exemplo, já que está neste posto apesar de ser reformado, Halvorsen revelou que na Noruega “não existem estratégias específicas para a população idosa, mas sim abordagens universais, que passam por garantir a todos o acesso aos serviços de educação e saúde”. “A igualdade e confiança são amigas do emprego”, disse.


Aumento da esperança de vida tem de ser acompanhado pela "qualidade de anos de vida"
De Portugal, como exemplo de boas práticas na gestão das idades, foi apresentado o caso do Grupo Nabeiro, onde a média de idades dos trabalhadores ronda os 42 anos, indicou o director dos Recursos Humanos, Jorge Figueiredo. “A idade não é um factor de exclusão”, frisou, adiantando que 20% dos trabalhadores do grupo (cerca de 650 pessoas) têm mais de 50 anos e 4% (mais de 130 trabalhadores) têm mais de 60.

“A mudança fundamental tem a ver com a alteração do modo como lidamos com os idosos”, frisou, por seu lado, o director do Departamento de Qualidade de Vida e do Envelhecimento da Organização Mundial de Saúde (OMS), John Beard. Por exemplo, disse, “não é aceitável que os idosos sejam tratados nos lares como se fossem crianças”.