Por Ana Rita Faria, in Público on-line
Nouriel Roubini, o economista que previu a crise financeira de 2008-2009, diz que evitar uma nova recessão mundial pode ser uma “missão impossível” e que as autoridades precisam de tomar as medidas certas, que incluem estímulos à economia e reestruturações da dívida.
Num artigo de opinião publicado hoje no Financial Times, Roubini diz que, até ao ano passado, os líderes mundiais podiam sempre “tirar um novo coelho da cartola” para estimular a economia, com taxas de juro próximas de zero, estímulos orçamentais e provisões de liquidez aos bancos e às instituições financeiras em dificuldades. Mas, “agora, já não há coelhos para tirar da cartola”, conclui.
Para o economista de origem turca e naturalizado nos EUA, o risco de Itália ou de Espanha – ou mesmo ambas – deixarem ter acesso aos mercados da dívida é agora “muito elevado”. Só que, ao contrário da Grécia, de Portugal ou da Irlanda, “estes dois países são demasiado grandes para serem resgatados”, avisa.
A agravar o cenário, a decisão da agência de notação Standard & Poor’s de reduzir o rating dos EUA aumenta as possibilidades de uma nova recessão e de maiores défices orçamentais.
As medidas a tomar
Nouriel Roubini admite que “pode não se conseguir prevenir uma nova recessão”, mas as medidas certas podem fazer parar essa segunda contracção económica.
Para o economista, a melhor aposta que os países que ainda não perderam acesso aos mercados podem fazer – Reino Unido, Estados Unidos, Japão e Alemanha – é estimularem a economia no curto prazo e comprometerem-se com austeridade orçamental no médio prazo.
Nouriel Roubini diz que os bancos centrais deverão introduzir estímulos à economia, em linha com o que a Reserva Federal americana tem feito, embora admita que o efeito possa ser limitado. Na zona euro, o Banco Central Europeu (BCE) deve deixar de aumentar as taxas de juro, reduzindo-as a zero, e deve comprar grandes quantidades de dívida pública nos mercados para evitar que a Itália e a Espanha deixem de conseguir financiar-se normalmente. “Se isso acontecer, o resultado será uma crise gigantesca, que irá requer o dobro ou o triplo dos recursos ou a ruptura da zona euro”, avisa.
Além disso, como o mundo atravessa uma crise de solvência, e não apenas de liquidez, deve haver uma reestruturação das dívidas públicas. No caso dos EUA, o economista defende que a dívida do malparado no crédito à habitação das famílias americanas deve ser reduzida a metade e devem ser dadas ajudas aos americanos que têm dificuldades em pagar os seus empréstimos.
Finalmente, as novas condições da ajuda à Grécia – com prazos de pagamento mais dilatados e taxas de juro mais baixas – devem estender-se a Portugal e à Irlanda, bem como a Itália e a Espanha, se estes dois países deixarem de conseguir financiar-se normalmente nos mercados.
Risco de guerras monetárias
O economista que previu a crise financeira que rebentou em 2008 é, uma vez mais, pessimista no prognostico: “mesmo antes do pânico da última semana, os Estados Unidos e outras economias avançadas estavam já a caminho de uma segunda e severa recessão”.
Os indicadores relativos à produção industrial mundial estão “a abrandar nitidamente – tanto nas economias emergentes, como a China, Índia e Brasil, como nos países riscos em matérias-primas ou orientados para as exportações como a Alemanha e a Austrália”.
No Reino Unido, a austeridade está já a abrandar o crescimento e, no Japão, o terramoto atrasou a recuperação económica.
Neste cenário de crise, “as exportações não vão ajudar”, avisa Roubini, num alerta que assenta que nem uma luva a Portugal e aos países debilitados da zona euro. “Todas as economias desenvolvidas vão precisar de uma moeda fraca, mas não podem tê-la todas ao mesmo tempo”, explica o economista.
Isto pode dar origem ao ressurgimento de guerras monetárias. Os primeiros sinais disso já se manifestaram, com a decisão do Japão e da Suíça de desvalorizarem a sua moeda. “Outros países vão seguir-se”, avisa Roubini.