in Jornal de Notícias
Um manifesto encabeçado pelo ex-Presidente da República Mário Soares apela à mobilização política e cívica de quem se opõe às actuais políticas de austeridade, dizendo que acrescentam apenas desemprego e recessão e sufocam a recuperação económica.
Além de Mário Soares, assinam este manifesto - tornado público na véspera da greve geral convocada pela CGTP-IN e UGT - Isabel Moreira (deputada independente do PS), Joana Amaral Dias (ex-dirigente do Bloco de Esquerda), José Medeiros Ferreira (ex-ministro dos Negócios Estrangeiros), Mário Ruivo (professor universitário), Pedro Adão e Silva (ex-dirigente do PS), Pedro Alves (líder da JS), Vasco Vieira de Almeida (advogado, ex-ministro socialista) e Vítor Ramalho (líder do PS/Setúbal).
"Os signatários opõem-se a políticas de austeridade que acrescentem desemprego e recessão, sufocando a recuperação da economia. Nesse sentido, apelamos à participação política e cívica dos cidadãos que se revêem nestes ideais, e à sua mobilização na construção de um novo paradigma", refere o manifesto ao qual a agência Lusa teve acesso.
Segundo os subscritores do texto, intitulado "Um novo rumo", este "é o momento de mobilizar os cidadãos de esquerda que se revêem na justiça social e no aprofundamento democrático como forma de combater a crise".
"Não podemos assistir impávidos à escalada da anarquia financeira internacional e ao desmantelamento dos estados que colocam em causa a sobrevivência da União Europeia (UE). A UE acordou tarde para a resolução da crise monetária, financeira e política em que está mergulhada", criticam estes representantes do espaço socialista, antes de defenderem que a solução para a crise nacional passa em primeiro lugar pela Europa e de manifestarem apreensão face à real democraticidade dos processos que levaram ao poder os actuais executivos italiano e grego.
"Sem a resolução política dos problemas europeus, dificilmente Portugal e os outros Estados retomarão o caminho de progresso e coesão social. É preciso encontrar um novo paradigma para a UE", defendem os subscritores do manifesto.
Para este grupo, encabeçado por Mário Soares, "o recente recurso a governos tecnocratas na Grécia e na Itália exemplifica os perigos que alguns regimes democráticos podem correr na actual emergência".
"Ora a UE só se pode fazer e refazer assente na legitimidade e na força da soberania popular e do regular funcionamento das instituições democráticas. Não podemos saudar democraticamente a chamada rua árabe e temer as nossas próprias ruas e praças", apontam os subscritores do documento.
O ex-Presidente da República e os restantes signatários do documento mostram-se também preocupados com algumas soluções políticas que poderão ser adoptadas em Portugal a curto prazo.
"Temos de denunciar a imposição da política de privatizações a efectuar num calendário adverso e que não percebe que certas empresas públicas têm uma importância estratégica fundamental para a soberania. Da mesma maneira, o recuo civilizacional na prestação de serviços públicos essenciais, em particular na saúde, educação, protecção social e dignidade no trabalho é inaceitável", denunciam.