in Jornal de Noticias
A presidente da Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego alertou, esta sexta-feira, que os preconceitos sociais sobre homens e mulheres condicionam a liberdade de escolha académica e profissional, apontando que o Governo está atento a esta matéria.
O alerta da presidente da CITE surge depois de conhecidas as previsões da Organização Internacional do Trabalho (OIT) que apontam que a igualdade de remuneração entre homens e mulheres só será atingida em 2086.
Segundo a organização, a diferença salarial "persiste" para todas as mulheres, com ou sem filhos. No geral, as mulheres ganham em média 77% dos que os homens recebem.
"O estereótipo ligado aos papéis sociais reforça a determinação prematura do desempenho de homens e mulheres na comunidade, e a associação desses papéis a cada sexo restringe a liberdade de escolha de percursos académicos de jovens, rapazes e raparigas, determinando (e limitando), com frequência, a escolha da atividade profissional", alertou Joana Gíria, numa resposta escrita enviada à agência Lusa.
Segundo a presidente da CITE, as mulheres trabalham menos horas de forma remunerada do que os homens, o que condiciona a sua progressão na carreira e a possibilidade de terem aumentos salariais, situação que piora a partir do momento em que são mães.
"Com efeito, o número de horas de trabalho não pago, dedicado a tarefas domésticas e a cuidados a familiares, ascendentes e descendentes, continua a ser desenvolvido mais por mulheres do que por homens", aponta Joana Gíria.
Na opinião da responsável, para que esta situação se inverta, é necessário que as entidades empregadoras adotem boas práticas em matéria de organização do tempo de trabalho, nomeadamente flexibilidade de horários ou a possibilidade de recorrer ao teletrabalho.
Medidas que, segundo a presidente da CITE, vão contribuir igualmente para acabar com os estereótipos ligados ao homem, que o rotulam como principal fonte de sustento da família, por oposição à mulher, que é apontada como a "trabalhadora/cuidadora".
"O objetivo é, naturalmente, o de ser atingida uma repartição mais equilibrada entre a vida profissional e a vida familiar e pessoal de trabalhadores e de trabalhadoras", defendeu.
Joana Gíria lembrou, a propósito, a decisão do Governo, anunciada quinta-feira, de iniciar negociações com as empresas cotadas em bolsa para que estas se comprometam a incluir pelo menos 30% de mulheres nos respetivos conselhos de administração até ao final de 2018.
Para além disso, o Governo pretende também que seja criado um mecanismo de apoio para identificação e análise das diferenças salariais entre homens e mulheres.
"A resolução aponta para que o Governo de Portugal está atento à problemática, encontrando-se a desenvolver esforços no sentido de acelerar a efetiva igualdade salarial entre homens e mulheres e a progressiva igualdade de género no que respeita à representação de mulheres e de homens nos conselhos de administração das empresas", defendeu a presidente da CITE.
A responsável frisou ainda que, em Portugal, a diferença salarial entre mulheres e homens chega quase aos 18%, no que diz respeito à remuneração mensal base, e que essas disparidades aumentam à medida que o nível de qualificação é mais elevado, sendo "particularmente elevado" entre os quadros superiores.