por Joana Capucho, in Diário de Notícias
Psiquiatra e piloto, José Gameiro assume que fica "perplexo" quando é confrontado com notícias como a do Airbus da Germanwings. "É muito difícil de explicar o que vai na cabeça de uma pessoa que faz isto".
Nos últimos anos, houve um crescimento no número de depressões?
Não há números fiáveis em Portugal. Verifica-se um aumento no número de consultas, mas isso não quer dizer que haja um aumento do número de depressões, porque pode significar apenas maior acesso. Contudo, notamos que tem vindo a aumentar progressivamente. E isso é preocupante.
Quais são as principais causas?
No que diz respeito às causas, há dois tipos de depressões: as reativas, geralmente provocadas por situações como o luto, o fim de uma relação ou a perda do emprego, e as endógenas, que têm uma causa genética. Estas últimas podem aparecer do nada e manifestarem-se várias vezes ao longo da vida.
Como se manifestam?
Além da tristeza, há dificuldades em estar com os outros, em dormir, na concentração e na memória, ansiedade e há a ideia de que a morte pode ser a solução para a dor. Por vezes também se verifica inibição psicomotora e ideias hipocondríacas.
Quais são as mais graves?
As depressões endógenas são muito mais graves e podem repetir-se ao longo da vida. Além de os sintomas serem mais graves, os riscos de suicídio são maiores. Por vezes, também estão associadas a ideias delirantes de ruína, como a pessoa achar que está falida ou que é perseguida. Não são evitáveis e geralmente são tratadas com medicação antidepressiva, enquanto nas reativas nem sempre é preciso.
Até onde pode ir a depressão?
O suicídio é o sintoma mais grave. Muitas depressões estão associadas à ideia de que a morte pode aliviar a dor, mas isso não quer dizer que seja ao suicídio, porque pode não existir um plano. Quando há um plano, o risco é muito grande.